Sociologia

Sociologia do Trabalho

No universo das ciências sociais, existe um campo importante conhecido por sociologia do trabalho. Ele compreende essa ação como sendo uma atividade exclusivamente humana, uma vez que é algo dotado de consciência, com propósitos explícitos que visam atingir determinados resultados, quer sejam de sobrevivência, quer sejam de ordem psíquica ou cultural.

Assim, o trabalho é uma atividade humanizadora e integra o quadro que constitui o homo faber, o homem fabricante.

Refletir a respeito do trabalho é necessariamente colocá-lo em uma perspectiva social. É no conjunto de várias atividades desenvolvidas pelas comunidades humanas que temos seu valor enquanto elemento de modificação das condições de vida, sejam materiais, sejam espirituais (entenda-se aqui “espirituais” como sendo morais, éticas ou transcendentes).

Assim colocado, devemos pensar que, num conjunto social determinado, encontramos indivíduos que dispendem tempo e esforço na consecução de certa atividade de tal forma que, na globalidade dos seres que constituem este conjunto, tenhamos, como resultado de todo esforço, uma variedade de produtos, materiais ou imateriais, que atendam às necessidades da comunidade em questão.

Em outras palavras, se há necessidade de alimentos variados, vestimentas, moradias, rituais religiosos, artigos oriundos da metalurgia etc., existem seres, indivíduos, que atuam cada qual em uma atividade para suprir tais necessidades da vida coletiva, o que significa dizer que só é possível pensar em trabalho individual se considerarmos o pertencimento dessa ação ao conjunto de atividades individuais necessário para uma vida comunitária.

Sociologia do trabalho.
O trabalho individual ganha sentido no conjunto de atividades individuais articuladas coletivamente. Por isso, as ações múltiplas no interior de uma dada sociedade só existem na forma de dependência recíproca e, nesse sentido, é possível falar de trabalho individual e coletivo.

Devemos compreender que o homem não vive só, não é uma ilha; pelo contrário, é um ser gregário, cuja individualidade só é considerada em razão de seu pertencimento a uma coletividade.

Os primeiros passos para a organização do mundo do trabalho

O desenvolvimento da linguagem tanto em sua forma oral como na escrita foi elemento primordial para o compartilhamento de experiências, de informações e de formulações que, pensadas por um ou outro homem, puderam ser absorvidas, assimiladas e retransmitidas num tecido social.

O trabalho pode ser pensado como essa tecelagem, esse artifício humano, cuja ferramenta é a totalidade do ser humano, seu corpo (braços, pernas, mente…), aplicada sobre a natureza, descobrindo possibilidades de atendimento das suas necessidades e realizando-as de forma estruturada.

Essa estruturação pode ser considerada “estampas” produzidas nesse tecido social pelo labor humano, podendo indicar a visão de cada sociedade sobre o mundo e, nesse sentido, o mundo não se limitando apenas à natureza, mas também às articulações que permitem a vida social e a própria divisão do trabalho no interior da comunidade. As formas sociais remetem a conteúdos precisos que possuem, na divisão do trabalho coletivo, sua matéria-prima.

Foi exatamente dessa articulação coletiva em torno do trabalho que a humanidade pôde produzir bens materiais e culturais que modificaram a sua condição, os quais incluem desde a domesticação de plantas e animais até a criação dos complexos meios de comunicação, altamente tecnológicos, do mundo atual. O trabalho coletivo produziu uma paisagem humanizada, assinalando na natureza o registro de modelos de organização social datados historicamente.

Daí a importância do estudo do trabalho nas sociedades humanas. Devemos considerar, ainda, que a otimização das ações dos homens em termos qualitativos e quantitativos decorre da valorização do labor (trabalho) enquanto possibilidade de uma vida melhor.

Por essas e outras razões, desde o início da sociologia no século XIX, o trabalho ocupou um lugar de destaque nas reflexões dos precursores dos estudos sociológicos. É exatamente nesses pensadores que encontramos as primeiras discussões relativas ao trabalho individual e coletivo e suas formas de apropriação no interior de uma sociedade.

Considerações acerca dos conteúdos sociológicos do trabalho

O trabalho individual só pode ser pensado no interior de uma determinada sociedade, num tempo histórico definido e num conjunto de tantas outras atividades individuais situa-das em uma lógica de divisão de trabalho.

Se pensarmos em termos matemáticos, na lógica de conjuntos, o trabalho individual está contido no trabalho coletivo, não havendo, assim, o conjunto de trabalho coletivo desvinculado do individual. O trabalho individual pertence ao trabalho coletivo, pois só tem validade como conhecimento, como produto e valor de uso no interior de outros trabalhos defini-dos socialmente, no interior das necessidades históricas de cada sociedade.

De acordo com um dos “pais” da Sociologia, Karl Marx:

(…) o trabalho revela o modo como o homem lida com a natureza, o processo de produção pelo qual ele sustenta a sua vida e, assim, põe a nu o modo de formação de suas relações sociais e das ideias que fluem destas.

Este trabalho ocupa uma centralidade naquilo que se denomina de atividades inerentes ao homem. Assim, a relação do ser humano com a natureza é mediada pelo trabalho que a humaniza, confere-lhe “feições” humanas. Como o próprio autor coloca: “ao submetê-la aos seus próprios fins, o homem realiza, neste sentido, uma humanização da natureza”.

Para outra corrente sociológica, o trabalho corresponde a um processo de racionalização em que os homens se solidarizam entendendo a importância da divisão do trabalho como o meio mais eficaz de manutenção da vida e da prosperidade humana. Dessa forma, a solidariedade é um elemento fundamental para a existência da vida coletiva, e o trabalho, nesse sentido, tem uma função estruturante. Assim, a divisão do trabalho é uma marca de vínculo e de ordem social necessária para a longevidade da vida em sociedade. Há uma positividade do trabalho no que diz respeito também à noção de pertencimento a uma dada coletividade.

Ao mesmo tempo em que essa razão se desenvolvia em termos produtivos, ela podia ser utilizada para reforçar os vínculos de solidariedade em um nível mais complexo, conferindo organicidade à sociedade assim desenvolvida. Dessa forma, o poder de coerção sobre os indivíduos no interior desta sociedade derivava do entendimento da importância da vida coletiva e da aceitação das regras sociais. Essa é a perspectiva de Émile Durkheim.

Referências bibliográficas:

MARX, Karl. Contribuição à crítica da economia política. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1983.

CARDOSO, Luís Antônio. A categoria trabalho no capitalismo contemporâneo. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ts/v23n2/v23n2a11.pdf

Por: Wilson Teixeira Moutinho

Veja também: