Apesar de ter sido uma reação ao Parnasianismo em alguns aspectos, o Simbolismo dividiu com aquele estilo o espaço cultural europeu entre o final do século XIX e o início do século XX.
Se, no Brasil, foi superado pela escola parnasiana, que dominou a cena artística do período, na Europa representou considerável avanço em direção à arte moderna que dominaria o século XX.
Origem
Em Portugal, o novo estilo teve início em 1890, com a publicação do livro Oaristos, de Eugênio de Castro; no Brasil, esse início se deu com a publicação, no mesmo ano (1893), dos livros Missal e Broquéis, de autoria de Cruz e Sousa, nosso melhor poeta simbolista. Outros autores simbolistas de relevância no Brasil foram Alphonsus de Guimaraens, Francisco Mangabeira e Saturnino de Meireles.
Os filósofos Henri Bergson, Arthur Schopenhauer e Soren Kierkegaard, com suas reflexões, contribuíram para a formação das bases intelectuais do movimento simbolista europeu.
As teorias desses filósofos, marcadas pela agonia, pela melancolia e pelo pessimismo, mostraram a face cultural de um período da história europeia em que a descrença nos atributos racionais e a saturação das conquistas científicas conduziram à crença em uma decadência da civilização.
No terreno da literatura, esse estado de espírito caracterizou o movimento conhecido como decadentismo, iniciado na França a partir da década de 1880 e que pode ser considerado um dos embriões do Simbolismo.
Autores e Obras
As fontes artísticas do Simbolismo estão localizadas principalmente na França. Com a publicação de As flores do mal, em 1857, Charles Baudelaire, traduzindo poeticamente o pessimismo e o subjetivismo da época, inaugurou uma série de procedimentos estilísticos e temáticos que transformaram sua obra em semente de tudo o que se fez, posteriormente, em termos de arte moderna.
Paul Verlaine, com seus Poemas saturnianos (1866), já fazia notar a influência de Baudelaire, destacando o papel da musicalidade na construção poética (música acima de todas as coisas – disse ele, em um de seus poemas).
A trajetória artística de Stéphane Mallarmé também representa um exemplo da crescente onda de renovação artística que tomava conta da Europa: em poemas como “Um golpe de dados jamais abolirá o acaso”, ele defendia a ideia de que a verdadeira arte poética apenas sugere o que as coisas são, sem nunca descrevê-las com precisão absoluta.
Finalmente, Arthur Rimbaud estabeleceu, no soneto “Vogais”, relações (tomadas por muitos como absolutas, mas que o poeta jamais pretendeu que o fossem) entre letras, cores, sons e sensações, o que, com o resto de sua obra, representou uma importante fonte de inspiração da poesia simbolista e da arte moderna.
O termo Simbolismo, como nome de tendência literária, foi usado pela primeira vez na França, em 1886, e serviu para caracterizar, de forma geral, os seguidores dos poetas franceses citados.
Características do Simbolismo
A literatura simbolista surgiu, em parte, como reação ao espírito racionalista e cientificista do Realismo-Naturalismo e do Parnasianismo.
A poesia simbolista pretendia ser a tradução dos estados mais profundos do ser humano, aqueles que se enraízam no inconsciente, encarado como um lugar fora do alcance da Razão. Pode-se notar, aí, uma retomada de parâmetros românticos, que são radicalizados pelos simbolistas.
Cabe salientar, entretanto, que o Simbolismo não compreende uma extensão tardia do Romantismo, apenas se utilizou de elementos presentes na temática romântica e os extravasou, construindo um caminho alternativo a todo pensamento científico e lógico.
Como alternativa para o espírito cientificista que dominara o século, os simbolistas apresentaram uma arte com forte coloração mística e metafísica.
Mallarmé, que já vimos ter sido um dos precursores do estilo, afirmava que “Nomear um objeto é suprimir três quartos do prazer do poema, que é feito da felicidade em adivinhar pouco a pouco; sugeri-lo, eis o sonho…” De fato, o Simbolismo foi a arte da sugestão.
A leitura se transformou, assim, em um exercício de decifração. Se ao poeta parnasiano interessava fazer o leitor enxergar o objeto que descrevia, para o simbolista o importante era despertar no leitor as mesmas sensações experimentadas por ele, diante do objeto.
Para exprimir esse mundo interior, contudo, os simbolistas encontraram um forte obstáculo: a linguagem, quase sempre profundamente ligada a mecanismos racionais. Foi preciso inventar uma nova linguagem, uma nova forma de expressão. Não se deve entender isso como criação de um novo idioma, a partir do nada; na verdade, trata-se da criação de procedimentos que permitam uma nova elaboração da linguagem já existente.
Mas, certamente, as características mais ligadas ao Simbolismo são a sinestesia e a musicalidade.
Ainda como recurso da linguagem nova que pretendiam fundar, os simbolistas utilizaram-se de recursos gráficos. Um dos mais importantes era o uso de maiúsculas alegorizantes (Beleza, Poesia, Alma etc.). Por meio delas, as palavras transformavam-se em símbolos – ou alegorias – daquilo que representavam. Assim, as coisas são vistas a partir de sua essência (ou seja, a poesia vira Poesia por reunir em si a essência de todas as poesias já criadas pelo homem.
Por: Wilson Teixeira Moutinho