A tradição europeia em pintura, escultura e arquitetura desenvolvida nos Estados Unidos pelos primeiros colonos e seus sucessores, desde princípios do século XVII até a atualidade. Como nação nova, os Estados Unidos experimentaram uma profunda influência dos estilos artísticos e arquitetônicos que haviam alcançado sua máxima expressão na Europa.
No decurso do século XIX, porém, o país desenvolveu traços distintivos dos modelos europeus. Mais tarde, no fim do século XIX, na arquitetura, e em meados do século XX, na pintura e na escultura, os mestres e escolas artísticas norte-americanos vieram a exercer uma decisiva influência sobre a arte e a arquitetura mundiais, período que coincide com sua crescente supremacia econômica e política no âmbito internacional e manifesta a prosperidade do país.
A grande extensão geográfica dos Estados Unidos gerou diferenças de estilo, dentro de uma linha básica de evolução artística. As regiões colonizadas pelos diferentes países europeus refletem uma precoce herança colonial em suas formas estilísticas, sobretudo na arquitetura, ainda que em menor medida desde meados do século XIX.
As variações climáticas também determinam distinções regionais nas tradições arquitetônicas. Ademais, existem diferenças entre a arte urbana e a rural nas distintas regiões: o isolamento dos artistas rurais permitiu que não recebessem influência das principais correntes artísticas e, assim, desenvolvessem modos de expressão individuais imaginativos e diretos, à margem das convenções formais estabelecidas. Este tipo de arte norte-americana inclui-se na tradição da arte popular naïf. As artes decorativas, em especial a dos metais e do mobiliário, também são uma importante forma de expressão artística durante o período colonial.
A ÉPOCA COLONIAL
A arte e a arquitetura nas colônias anglo-americanas revelam as diversas tradições nacionais dos colonizadores europeus, ainda que adaptadas aos perigos e às duras condições de um vasto deserto. As influências espanholas prevalecem no oeste, embora os estilos ingleses, misturados com os franceses e os alemães, predominem no leste.
O SÉCULO XVIII
No início do século XVIII, as colônias começaram a adquirir um caráter mais definido; à medida que iam sendo superadas as dificuldades e incrementados o comércio e a produção, surgiu o crescimento de prósperas cidades. Cidades recém-fundadas, como Williamsburg, na Virgínia, Annapolis, em Maryland, e especialmente Filadélfia, na Pensilvânia, foram planificadas seguindo projetos regulares e geométricos, traçados a régua, com ruas que se cruzam em ângulo reto e praças públicas. Em contraste, as cidades fundadas no século XVII, como é o caso de Boston, não seguiram um planejamento preconcebido e racional.
No terreno da arquitetura, as casas de campo construídas em meados do século XVIII seguem o paladianismo inglês, bem como os edifícios públicos: por exemplo, o hospital da Pensilvânia (iniciado em 1754), na Filadélfia. A escola de pintura mais ativa foi a do vale do rio Hudson, onde os donos da terra ou patrões encomendavam retratos para suas casas senhoriais de estilo germânico. Benjamin West e John Singleton Copley estão entre os artistas que alcançaram popularidade pouco depois de meados do século XVIII.
A NOVA NAÇÃO (1776-1865)
Além dos conflitos sociais e econômicos, a Guerra da Independência gerou uma interrupção na atividade arquitetônica. A pintura também enfraqueceu-se. Entre 1785 e 1810, produziu-se um ressurgimento na arte e na arquitetura e estabeleceu-se um novo estilo nacional. Na década de 1790, a prosperidade de cidades como Boston e Salem, em Massachusetts; Baltimore, em Maryland; Savannah, na Geórgia; e Nova York desencadearam uma importante atividade de construção no incomparável estilo que expressa a aceitação do neoclassicismo do arquiteto britânico Robert Adam.
Significativamente, os dirigentes da nação associavam a jovem república com as grandes repúblicas do mundo antigo. O neoclássico, baseado inicialmente nos protótipos romanos e no estilo formulado por Adam e pelo arquiteto inglês John Soane, converteu-se no estilo oficial da recente nação e inundou a nova cidade de Washington. Benjamin Latrobe, nascido e formado na Inglaterra, construiu os edifícios neoclássicos mais brilhantes dos Estados Unidos, como a Catedral de Baltimore (1806-1818). O neogrego sucedeu o neoclássico, reflexo do gosto mais pesado do último estilo em vigor na Inglaterra. Entre os anos de 1820 e 1850, o neogrego se converteu no que poderíamos denominar o estilo nacional. Gilbert Stuart foi o mais brilhante retratista da geração do pós-guerra e John Trumbull tornou-se o primeiro pintor da história da nação a imortalizar os grandes momentos da guerra.
DA GUERRA CIVIL AO ARMORY SHOW (1865-1913)
Os dois principais desenvolvimentos arquitetônicos depois da Guerra Civil foram a policromia vitoriana neogótica e o estilo Segundo Império. Em fins do século XIX, os arquitetos norte-americanos desenvolveram dois estilos próprios: a casa de campo e os arranha-céus (ver Escola de Chicago). O desenvolvimento vertical dos edifícios de escritórios se fez possível pela aparição de novos materiais (cimento armado e ferro) e de novas técnicas de construção, e se viu favorecido pela invenção do elevador, que já funcionava em Nova York na década de 1850.
O estilo Beaux Arts transcendeu a década de 1890 e se prolongou até o século XX. Os arranha-céus ganharam até elementos históricos, geralmente góticos, na decoração. A pintura de paisagens culminou com a obra madura de George Inness, que, seguindo a linha da Escola Barbizon, somou a seu naturalismo o gosto pelos estados da natureza desenvolvidos de maneira poética. Os dois pintores mais destacados do século XIX nos Estados Unidos foram Winslow Homer e Thomas Eakins. Ao mesmo tempo, a corrente romântica na arte norte-americana, de grande peso desde Washington Allston, encontrou sua expressão na nova escola através das poéticas obras de William Morris Hunt e John La Farge e nas criações expressionistas de Ralph Blakelock, assim como nas pinturas de Albert Pinkham Ryder.
Os dois estilos imperantes no começo do século — o estilo acadêmico, com sua temática idealizada, e o impressionismo, centrado na vida da burguesia rural — ignoraram o cenário urbano e se concentraram em temas mais contemporâneos, tendo como representantes, entre outros, George Luks, William James Glackens e John Sloan. Em 1908, estes artistas realizaram uma exposição coletiva como parte do grupo denominado Os Oito. Como movimento de vanguarda, Os Oito (também conhecido como a Ashcan School) teve uma vida relativamente curta, e foi substituído pela onda de modernismo que se seguiu ao Armory Show, a exposição da arte moderna europeia celebrada em Nova York em 1913.
ARTE E ARQUITETURA CONTEMPORÂNEAS
Após a I Guerra Mundial (1919), a arte norte-americana alcançou dimensão internacional e exerceu uma influência mundial à medida que arquitetos, escultores e pintores experimentavam novos estilos, formas e meios de expressão artística. O estilo Beaux Arts se manteve até a crise econômica de 1929, que paralisou o auge da construção dos anos precedentes. Tanto nos edifícios públicos como nos privados, predominaram os estilos georgianos e românico, adaptados até em seus menores detalhes às necessidades do século XX. Ao mesmo tempo, alguns pioneiros com propostas individuais abriram caminho até o desenho moderno.
O mais notável foi Frank Lloyd Wright. A última fase de sua trajetória foi marcada pelo uso do concreto combinado a novos sistemas estruturais e a formas geométricas audazes na linha do expressionismo, cujo exemplo mais famoso é a espiral do Museu Guggenheim (1956-1959), em Nova York. Uma importante mudança de direção na arquitetura dos Estados Unidos produziu-se com a chegada ao país, em 1930, de arquitetos alemães e austríacos que abandonaram a Europa em razão da proibição da arquitetura vanguardista por parte dos nazistas. Rudolph Schindler e Richard Neutra, em Los Angeles; Walter Gropius e Marcel Breuer, em Cambridge (Massachusetts); e Ludwig Mies van der Rohe, em Chicago, levaram os Estados Unidos à expressão das ideias de funcionalidade e estrutura no seio de composições abstratas, associadas a princípio com a escola alemã da Bauhaus e, posteriormente, englobadas sob o termo de Movimento moderno.
A reação frente aos estereótipos desse movimento, considerado cada vez mais frio e monótono, originou, na década de 1950, uma corrente que buscava um estilo mais formalmente expressivo, como o que se vê nas obras de Eero Saarinen, Paul Marvin Rudolph (bom expoente do brutalismo), Louis Khan (que combina forma expressiva e monumental com funcionalidade) e Ieoh Ming Pei (autor da ampliação da National Gallery de Washington, em 1978), entre outros.
Nas décadas de 1970 e 1980, a arquitetura pós-moderna supunha uma contestação da austeridade do movimento então dominante nos Estados Unidos desde a II Guerra Mundial. Entre os arquitetos afeitos a esta corrente, cabe destacar Robert Venturi (pioneiro e teorizador), Michael Graves, Robert A. M. Stern e Richard Meier. Os exemplos mais expressivos são prédios públicos, como o edifício Portland (na cidade homônima, 1982), de Graves. Uma figura importante e de certa forma independente do pós-modernismo é Frank O. Gehry, que concebe seus edifícios como esculturas. Um exemplo é seu projeto para o Museu Guggenheim de Bilbao, na Espanha.
A PINTURA DA I GUERRA MUNDIAL
Nas primeiras décadas deste século, os estudantes norte-americanos em Paris entraram em contato com a obra de Paul Cézanne, dos fauvistas e de Pablo Picasso, assim como com as primeiras manifestações da arte abstrata. No início de 1908, em sua galeria de Nova York, o fotógrafo Alfred Stieglitz começou a mostrar a obra de John Marin, Arthur Garfield Dove, Max Weber e outros artistas norte-americanos de vanguarda.
Durante um breve período após a I Guerra Mundial, os artistas norte-americanos tomaram partido do cubismo. Joseph Stella adotou o futurismo italiano, celebrando as formas industriais e do movimento em sua monumental Ponte de Brooklin (1919). O movimento mais difundido dentro da pintura figurativa foi o regionalismo, que rechaçou o internacionalismo da arte abstrata e adotou em sua temática a vida cotidiana norte-americana do campo ou da pequena cidade. Thomas Hart Benton é a figura principal desse movimento, que inclui também Grant Wood. O pintor realista norte-americano do século XX mais conhecido é Edward Hopper, um independente que se manteve à margem dos movimentos contemporâneos.
A PINTURA DA II GUERRA MUNDIAL
Durante a II Guerra Mundial, os Estados Unidos se converteram no país mais poderoso do mundo, militar e economicamente. Esta prosperidade foi acompanhada de uma nascente liderança artística que transformou Nova York, o lugar dos mais significativos desenvolvimentos da arte abstrata desde o cubismo, na substituta de Paris como a capital do mundo artístico. Com o abstracionismo, os artistas buscaram reinterpretar a pintura mediante uma técnica de pinceladas vigorosas e abstratas, à maneira do expressionismo.
Jackson Pollock desenvolveu a técnica do dripping (ou action painting), de pintura com brochas sobre uma tela enorme colocada no chão, mediante movimentos semi-automáticos, de forma que são obtidos esquemas rítmicos na tela. Outros artistas, ainda que compartilhem a pincelada livre e enérgica, assim como o enorme tamanho das telas características do movimento, apresentam estilos e qualidades expressivas bastante diferentes. Willem de Kooning, que nunca foi um verdadeiro pintor abstrato, é famoso por suas representações de mulheres com uma intensidade violenta.
Um sentimento mais sereno se acha na pintura contemplativa de Robert Motherwell e nas telas nuas de Franz Kline, que sugerem linhas caligráficas. Em relação a este movimento, há que se destacar a tendência para a realização de uma obra, aplicando extensos campos de cores puras. Sua máxima expressão e visível nas obras de Mark Rothko, Barnett Newman e Clyfford Still.
Em torno de 1960, haviam emergido duas reações diferentes contra o expressionismo abstrato. Jasper Johns, com suas frias e inexpressivas representações de bandeiras e de outros objetos cotidianos, e Robert Rauschenberg, com a incorporação de materiais próprios dos meios de comunicação de massas a suas colagens, marcaram a linha da Pop Art, enquanto Andy Warhol e Roy Lichtenstein, entre outros, reproduziram imagens extraídas de anúncios publicitários, histórias em quadrinhos e outros produtos da cultura popular. Ao mesmo tempo, os artistas minimalistas pretenderam enfatizar os aspectos formais das superfícies pictóricas e, para isso, reduziram suas obras à representação precisa de formas geométricas planas.
A ESCULTURA NORTE-AMERICANA NO SÉCULO XX
Na primeira década do século, os estilos acadêmicos, ainda que modificados pelo escultor francês Auguste Rodin, dominaram a escultura nos Estados Unidos e alguns artistas, como Paul Manship e Gaston Lachaise, introduziram um certo grau de simplificação e de estilização. Em 1916, Elie Nadelman voltou de Paris com um estilo escultórico cubista muito pessoal. Jacques Lipchitz, Chaim Gross e William Zorach foram outros pioneiros da escultura cubista.
A obra de Isamu Noguchi foi exibida pela primeira vez na década de 1920. Nogushi havia se formado com o escultor Constantin Brancusi. Alexander Calder, influenciado pelo surrealismo biomórfico do espanhol Joan Miró, inventou uma nova forma de escultura: o móbile, que deu ao gênero o sentido de movimento e de mudança espontânea. O construtivismo, no qual a escultura foi concebida com diversos elementos manufaturados, chegou aos Estados Unidos através de artistas imigrantes da década de 1930, principalmente pelo brilhante e talentoso Naum Gabo. Depois de 1970, a escultura norte-americana, assim como a pintura, entrou num período de pluralismo.
A escultura pop está representada por formas como as figuras de gesso em tamanho natural de George Segal; as figuras de plástico policromático de Duane Hanson, que beiram a caricatura; assim como as esculturas baseadas na fast food e outros objetos cotidianos de Claes Oldenburg. De outro lado, estão as enormes estruturas de metal de Richard Serra, que tratam de articular os espaços ao ar livre, em contraste com os ambientes em escala mais íntima de Louise Nevelson. Outras obras importantes da década de 1970 englobam desde os earthworks (intervenções sobre a natureza), que cobrem imensos espaços de terreno, até a precisa e simétrica escultura minimalista de Donald Judd e Sol LeWitt. Na década de 1980, começaram a aparecer formas mais excêntricas e orgânicas, tendência conhecida como escultura pós-moderna ou pós-minimalista.
Autoria: Marcia Tavares da Silva