Possivelmente, se perguntarmos a um aluno ou a um cidadão qualquer o que é arte, é provável que nos responda com exemplos, citando, possivelmente, nomes como o de Leonardo da Vinci ou Michelangelo, já que para muitas pessoas arte é alguma coisa consagrada pelo tempo.
A resposta é parcialmente verdadeira, já que a criatividade de Da Vinci e de Michelangelo é inquestionável. Mas a pergunta continua sem resposta satisfatória, pois, em outras épocas, outros nomes também foram consagrados pelo tempo. E, nos dias atuais, quem são os artistas notáveis? Ou não haveria artistas agora, pois como não ocorreu, ainda, um afastamento no tempo, não saberíamos quais serão os consagrados?
Ninguém correria o risco de dizer que a nossa época não tem arte e artistas. Alguém poderia citar o nome de um ator global ou do cinema norte-americano e dizer que ele é artista e que a arte dele é o cinema. A resposta também estaria apenas parcialmente correta, uma vez que teríamos exemplos e não uma definição do que vem a ser arte.
Não é muito fácil definir o que é arte. Cada época, e não raramente cada artista, tem uma definição para ela. Mas talvez seja possível reconhecer algumas características. Quem faz arte produz alguma coisa, seja pintura, literatura, dança, escultura, música, arquitetura ou cinema (também conhecido como sétima arte, já que na Antiguidade só existiam as outras seis), logo a arte é um fazer.
Toda arte pressupõe uma técnica, já que toda arte é produção. Os antigos gregos a chamavam de techné, que vem a ser o modo exato de se realizar uma tarefa e que está na raiz da palavra técnica, que compõe também a palavra tecnologia.
Na língua portuguesa, a palavra arte vem do latim ars e está presente no verbo articular, que significa fazer a união entre as partes e o todo. Daí provém também a palavra artesanato. Em nossos dias, prevalece a antiga distinção imposta durante o Império Romano entre artistas e artesãos: artista era o que realizava uma atividade intelectual capaz de comover a alma, como, por exemplo, a música, a poesia e o teatro, enquanto artesão era a pessoa de origem mais humilde que produzia um trabalho manual, como a cerâmica, a tecelagem e a ourivesaria.
Arte é também um conhecimento, uma vez que a arte pressupõe representação, que em grego corresponde à palavra mimesis. O artista deve estudar atentamente os objetos, pessoas e fenômenos e desenvolver uma técnica capaz de representá-los. Como ato de conhecimento, a arte é uma ponte entre a percepção do sujeito e a realidade externa. Em outras palavras, cada artista, em cada época, desenvolve uma técnica de representação da realidade, ainda que esta possa ser um fenômeno interior, como na chamada arte abstrata.
O homem da Pré-História não representava a existência da mesma forma que um artista do Renascimento ou de nossos dias. Cada época produz uma forma de conhecimento. Por exemplo, por que o homem não inventou a vacina contra a aids na Idade Média? A resposta é óbvia, porque a aids não existia. O conhecimento é consequência de uma necessidade. Na arte como na ciência, o ato de conhecer está essencialmente ligado às condições materiais da vida, o que significa que em cada época uma pessoa entende o mundo de forma diferente.
A arte é também expressão, isto é, projeção de uma emoção numa determinada forma. É a materialização de um sentimento, seja de dor ou de alegria, numa forma. A arte da palavra, por exemplo, consiste em dar vida e potencializar as expressões desgastadas pelo uso. O bom escritor encontra uma forma nova para dizer o que sente e deseja.
Por: Wilson Teixeira Moutinho
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