A alquimia era uma complexa e indefinida união de vários campos do conhecimento, como a química, a astrologia, o ocultismo e a magia, aos quais se agregaram ideias obscuras derivadas de diversas religiões e outras fontes do saber.
Todo o conhecimento químico medieval, praticado de forma não-científica inicialmente pelos árabes e depois pelos ocidentais. A alquimia foi muito popular desde os primórdios do Cristianismo até o séc. XVIII.
A pedra filosofal
A alquimia baseou-se na tentativa de obter o elixir da vida (poção que curaria doenças e prolongaria a vida) e ouro, a partir da chamada pedra filosofal, substância mágica supostamente capaz de facilitar o processo de transmutação, isto é, a alteração e a transformação de corpos sólidos.
Os alquimistas acreditavam que toda matéria era composta de uma substância única e sem forma, que se transformava nos quatro elementos – terra, ar, fogo e água – quando combinada com calor ou frio, aridez ou umidade. Acreditavam que a transmutação poderia ocorrer mudando o equilíbrio desses quatro elementos.
Eles tentavam transformar metais menos valiosos em prata e ouro. Fracassaram, mas seu trabalho na preparação e estudo das substâncias químicas contribuiu para o desenvolvimento da química como ciência.
Os alquimistas consideravam o ouro um metal perfeito, devido a seu brilho e sua resistência à ferrugem. A durabilidade desse metal precioso os levou a acreditar que poderiam encontrar o segredo da longevidade e até da imortalidade se conseguissem descobrir como obtê-lo de substâncias menos valiosas.
Acreditava-se que as técnicas utilizadas para fazer ouro estavam relacionadas simbolicamente com a morte, a corrupção, a regeneração e a ressurreição. A alquimia e a astrologia tornaram-se intimamente relacionadas, devido à crença de que cada corpo celeste representava e controlava determinado metal. Os alquimistas acreditavam que a posição dos corpos celestes determinava o sucesso ou o fracasso.
História
A alquimia parece remontar aos trabalhadores egípcios do metal, unida às teorias sobre a matéria dos gnósticos e neoplatônicos alexandrinos, que eram aristotélicos, além da concepção da primeira matéria que aparece no Timeu de Platão.
No século II, os primeiros alquimistas combinaram práticas de laboratório, utilizando diversos aparelhos, com explicações simbólicas do mundo e a crença na ação a distância, a influência dos astros no mundo terrestre e os poderes dos números. Essas ideias consolidaram-se no século III e mantiveram-se até o Século XVII.
Não existia uma estrita distinção entre a ciência da natureza e as ciências ocultas (magia). Em Teoria da arte mágica, Al-Kindi reconhece que os fenômenos físicos podem ser produzidos tanto por causas físicas como por causas ocultas. O desejo de adquirir esse poder mágico fez com que muitos europeus viajassem até centros de ensino muçulmanos em Toledo ou Sicília.
A magia e a alquimia já eram mencionadas em obras latinas anteriores ao século XII, porém somente obtiveram um notável avanço após aquela época. Os pesquisadores queriam encontrar a pedra filosofal, o elixir da vida e as propriedades supostamente mágicas de animais e plantas. Mais tarde, a busca da fórmula da juventude eterna ou da transformação dos metais em ouro criou lendas como a do doutor Fausto, o que lhes deu muita fama. Isso fez com que práticas normalmente realizadas por pessoas instruídas atraíssem todo tipo de gente durante os séculos XIV e XV.
Existia uma magia de origem dita “pecaminosa”, “obra do demônio”, e outra considerada “boa”, que podia ser produzida por certas virtudes ocultas dos seres naturais. É das que vem a denominação magia natural. Essa distinção foi mantida por filósofos escolásticos como Guilherme de Auvergne e Alberto Magno.
Foger Bacon desenvolveu uma importante concepção do experimento científico e realizou a primeira exposição da finalidade prática da ciência com base no desejo de dominar a natureza e na crença de poderes ocultos em pedras e plantas. Em sua obra Opus tertium, ele afirma que a prática alquímica ajudou mais o desenvolvimento da química do que as especulações dos alquimistas: “Existe, entretanto, outra alquimia, operativa e prática, que ensina, graças à arte, como fazer os metais nobres e as cores e muitas outras coisas melhores e mais abundantes do que elas se encontram na natureza”.
Paracelso, famoso médico suíço e estudioso das ciências ocultas no início do séc. XVI, foi um grande entusiasta do uso dos elementos da natureza e dos princípios da alquimia na cura de doenças. Suas ideias provocaram muitas discussões acadêmicas na Universidade da Basiléia. Os trabalhos de pesquisa abordando recursos naturais desenvolvidos por Paracelso deram origem ao que se chama hoje de ciência experimental.
As práticas dos alquimistas foram transmitidas de geração em geração, com as traduções latinas de tratados gregos e árabes sobre tintas, pintura, fabricação de cristais, pirotecnia, medicina e metalurgia. Essa prática empírica concentrava-se nas mudanças de cor e aparência, mas ofereceu muitas informações úteis para a nova química que começava no século XVII.
No Renascimento, a alquimia e as ciências naturais, a astrologia e a astronomia interagiam, Mais tarde, o avanço da ciência moderna teve relação direta com o abandono das teorias e práticas alquimistas e mágicas, que então foram consideradas pseudociências.
Por: Osvaldo Shimenes Santos