A escolástica representa o segundo e último período do pensamento cristão, tendo início ainda no século IX e se prolongando até o século XVI. O nome vem das escolas da época, na verdade, das primeiras universidades europeias, todas controladas pela Igreja Católica.
Entre 1200 e 1400, foram instituídas cinquenta e duas universidades no continente europeu e, destas, vinte e nove estavam vinculadas diretamente ao papado romano. Isso revela que a Igreja era uma das principais interessadas nos conhecimentos dos antigos pensadores orientais. A leitura de Aristóteles era obrigatória e sua proposta de entendimento da física integrada à metafísica era um dos eixos dos debates acalorados.
Isso não significa dizer que todos os religiosos compartilhavam da ideia de que as universidades eram necessárias. São Bernardo, por exemplo, afirmava que a corporação universitária era um antro de corrupção do homem.
O argumento de São Bernardo vinha da possibilidade de se questionar a fé, pois, conforme Bernardo, se o homem desenvolvesse muito a razão, iria querer explicar tudo, e aquilo que não tivesse explicação seria colocado em dúvida. Ora, a fé não se explica, “eis o mistério da fé”. Logo, os homens duvidariam da fé e o resultado seria a danação da humanidade. Se o papel da Igreja era salvar as almas, como faria isso se estimulava a criação das universidades? Seria esse um espaço em que a razão podia prosperar?
Percebe-se, então, que existiam os defensores e os detratores das universidades na Idade Média. Porém, apesar das oposições, elas foram preservadas e ampliadas no período. E qual a causa disso?
A resposta a essa pergunta passa necessariamente pela defesa, feita no círculo dos religiosos, de que era possível conciliar fé e razão. O nome dado a essa tentativa de conciliação é Escolástica.
Podemos afirmar, então, que aquilo que chamamos de Escolástica refere-se, na verdade, ao conjunto de pensamentos originais desenvolvidos nas universidades da Europa Ocidental, especialmente durante a Baixa Idade Média.
Uma das primeiras e grandes preocupações dos escolásticos foi com as palavras: qual a relação que existe de fato entre as palavras e as coisas? Na frase “o nome da rosa”, o “nome” rosa sobrevive mesmo depois da morte da “flor” rosa.
Esse tipo de preocupação entrou para a história da Escolástica como a Querela dos Universais (ou Questão dos Universais). Os “universais”, no caso, devem ser entendidos como os termos (palavras) que designam ideias gerais, como, por exemplo, “homem”, “animal” e muitas outras.
O expoente do movimento em defesa das universidades e de seu papel na sociedade medieval foi São Tomás de Aquino.
Escolástica nominalista e realista
Para os escolásticos nominalistas, os universais eram apenas palavras, ou seja, não tinham existência real, eram apenas abstrações de coisas individuais (ex.: este homem, este animal).
Já para os escolásticos realistas, a existência efetiva dos universais era incontestável. A “palavra” Deus indicaria um ser perfeito; entretanto, se Deus não existisse de fato, seria preciso admitir a existência de algo ainda maior que representasse o início da perfeição, e assim sucessivamente.
Uma espécie de meio-termo entre nominalistas e realistas foi encontrado pelo padre escolástico Pedro Abelardo (1079-1142). Abelardo defendia que os universais só existiam no intelecto humano, porém, mantinham relação com os individuais no sentido de dar-lhes significados. Portanto, seria enquanto significado que os universais subsistiriam às coisas.
Observe que Abelardo foge de uma explicação apenas teológica para o problema: ele analisa duas questões contraditórias para extrair delas uma solução satisfatória, usando, para isso, um raciocínio filosófico.
Bibliografia: ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
Por: Wilson Teixeira Moutinho