A crise de 2008, mais precisamente a partir do mês de setembro, foi antecedida por um período de crescimento econômico estável e pela inflação baixa nos EUA, proporcionando um apetite voraz no ambiente global por investimentos de risco.
Causas da crise de 2008
Um aspecto importante a considerar quando se trata da crise econômica de 2008, a maior da história do capitalismo desde a Crise de 1929, foi sua origem em decorrência de duas guerras – a Guerra do Afeganistão em 2001 e a Guerra do Iraque em 2003, deflagradas após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos. Essas guerras se estenderam até o início da década de 2010, forçando o governo a gastar muito dinheiro.
Além dos elevados gastos militares, que proporcionavam grandes desequilíbrios nas contas públicas, os EUA ainda sofriam com terríveis déficits na balança comercial. Ao invés de o governo reduzir os elevados gastos, captou grandes somas de capital no mercado financeiro internacional, principalmente da China e da Inglaterra.
Os bancos também recebiam grandes investimentos do exterior. Com o dinheiro injetado pelo exterior e a inflação baixa que obrigava o Banco Central (chamado de FED – Federal Reserve System, mais conhecido como Federal Reserve e, informalmente, como The FED) a adotar baixas taxas de juros para incentivar o consumo, os bancos passaram a oferecer mais créditos, inclusive a clientes considerados de alto risco (conhecidos como subprime – traduzido como “de segunda linha”) que detinham péssimos históricos de crédito. Como a economia vinha crescendo com força, os bancos viram nesses clientes possibilidades de ganhos maiores.
Com a grande oferta de créditos a juros baixos, a população passou a comprar muito, principalmente imóveis, valorizando rapidamente o setor imobiliário com a elevação dos preços e financiando a bolha imobiliária que iria desencadear a crise.
Os contratos de hipotecas foram engenhosamente transformados pelos bancos em títulos (ações) de baixo risco de calote (default) e vendidos a outras instituições financeiras. Tudo isso sem uma regulação mais coordenada dos mercados financeiros por parte do governo.
Mesmo em um ambiente com operações de maior risco, os investidores não relutaram em adquirir de títulos atrelados ao mercado imobiliário, especialmente porque as agências de classificação de risco ofereciam uma nota AAA, a mais alta qualidade para esse tipo de investimento.
O detalhe é que as agências de risco são remuneradas pelos bancos com operações com os títulos vinculados ao setor de imóveis e supostamente podem agradar as instituições financeiras que solicitam as análises.
Outro problema é que as hipotecas do subprime têm taxas de juros pós-fixadas que sobem de acordo com as oscilações da economia, isto é, sobem quando a economia fica ruim.
Consequências da crise de 2008
Chegou a hora em que a taxa de juros começou a subir, reduzindo a procura por imóveis e provocando a consequente queda dos preços, pois a bolha imobiliária havia estourado. A inadimplência foi inevitável.
Por exemplo, não havia lógica em pagar uma hipoteca elevada de um imóvel que valia US$ 1 milhão e que, de repente, passava a valer US$ 750 mil. Nesse momento, faltou dinheiro aos bancos para honrarem os compromissos com os credores dos títulos das hipotecas, diante da elevada inadimplência da população.
Em um primeiro momento, instituições do setor hipotecário, financeiro e de seguros receberam ajuda financeira do governo de George W. Bush (do Partido Republicano). Mas, como resultado de pressões políticas, o governo rejeitou conceder garantias para uma operação de compra do Lehman Brothers pelo banco britânico Barclays. No dia 15 de setembro de 2008, o banco Lehman Brothers (fundado em 1850) quebrou.
Houve pânico generalizado e diminuição do crédito com o fechamento do quarto maior banco de crédito dos Estados Unidos, além de afundar as bolsas de valores de todo o mundo, disparando o alarme sobre o tamanho da crise global.
Chegou a crise, secando o crédito empresarial e individual. Muitas empresas, impossibilitadas de contrair empréstimos para o pagamento de empregados e fornecedores, cancelaram investimentos e, consequentemente, reduziram o quadro de funcionários.
O desemprego atingiu drasticamente a classe trabalhadora. Os bancos passaram para a liquidez – venda dos imóveis que iam sendo tomados dos inadimplentes, o que provocava ainda mais a queda no preço dos imóveis.
O efeito dominó foi inevitável. Como os Estados Unidos são a maior economia do mundo, a crise afetou as economias em escala global. Bolsas de valores foram afetadas diante da queda, no mercado, do valor das ações; além disso, os preços de produtos industrializados e das commodities caíram diante da recessão econômica.
O neoliberalismo (política de redução da presença do Estado no mercado), que se espalhou pelo mundo após o Consenso de Washington (EUA e Reino Unido, na década de 1980) e, principalmente, com a globalização a partir dos anos 1990, entrou em xeque diante da crise que começou no mercado imobiliário e contaminou o restante dos setores econômicos.
A intervenção do Estado no mercado foi a saída para conter a crise: uma política de estímulos públicos foi aplicada à economia pelo presidente Barack H. Obama (do Partido Democrata), eleito em 2008 e reeleito em 2012.
Por: Wilson Teixeira Moutinho
Veja também:
- Crise de 1929
- História do Capitalismo
- Capitalismo X Socialismo
- Transição do Feudalismo ao Capitalismo
- Modelos Produtivos do Capitalismo