A Nova República começou com seguidos planos econômicos e total descontrole inflacionário, Os governos só venceram a inflação após dez anos, com o Plano Real. Desde então, a estagnação deu lugar ao crescimento, mas a dívida interna aumentou consideravelmente.
O descontrole inflacionário
Ao assumir a Presidência após a ditadura militar e a morte de Tancredo, em 1985, José Sarney se cercou de economistas notáveis e implantou o primeiro plano de estabilização econômica da Nova República, o Plano Cruzado, que daria o tom dos demais planos. Todos empregavam mecanismos parecidos para barrar a inflação: congelamento de preços e salários e criação e sobrevalorização de uma moeda. Foi assim com o cruzado (1986), o cruzado novo (1989) e o cruzeiro (1990).
De acordo com economistas da época, a dificuldade em vencer a inflação estava no fato de que ela se tornara inercial, ou seja, estava relacionada à expectativa da sociedade. Dessa forma, produtores e consumidores já adicionavam ao valor de seus serviços a inflação prevista para o mês seguinte, tornando realidade o que era previsão.
No auge do Plano Cruzado, a população o apoiava, acionando a Sunab para que multasse e fechasse estabelecimentos comerciais que desrespeitassem a tabela de preços.
Mesmo a saída monetária encontrada pela ministra da Economia do governo Collor, Zélia Cardoso de Mello, continha os elementos centrais destacados acima e se valia da mesma prática do choque econômico: antes de anunciar o plano, o governo decretava feriado bancário, impedindo que a população tivesse acesso a seus investimentos.
O problema maior desse mecanismo é que, após o fracasso do primeiro plano econômico (o Cruzado), a sociedade se tornou cética diante das saídas encontradas pelos diferentes governos. Achava-se intuitivamente que a elevada inflação acionaria junto ao governo um novo plano econômico e uma nova tabela de congelamento de preços.
Com isso, comerciantes iniciavam uma intensa remarcação de preços, e os investidores retiravam seu capital dos bancos, causando escassez de moeda circulante e encarecendo os empréstimos, o que, em conjunto, anulava as medidas pretendidas pelo governo.
A estabilidade econômica
O cenário inflacionário se alterou apenas quando FHC foi nomeado ministro da Fazenda por Itamar Franco, em 1993. O ministro convocou economistas que haviam participado da elaboração do Plano Cruzado para criar um plano com diretrizes distintas daquele.
O Plano Real
Edmar Bacha e Pérsio Árida, entre outros, formularam o Plano Real, que foi anunciado à sociedade sem sobressaltos. O plano se estruturava em três fases:
- a primeira fase (reorganização das dívidas públicas e redução dos gastos públicos) iniciou-se em 1993, quando FHC assumiu o ministério da Fazenda.
- a segunda fase, crucial, foi a implantação da Unidade Real de Valor (URV) em 1994, que representava um desafio imediato à sociedade, obrigada a viver com dois padrões distintos de preços.
- a terceira fase – início da circulação do real – foi implementada em julho de 1994. O impacto foi imediato: a inflação despencou, permanecendo sob controle a partir de então.
O Proer
A drástica redução dos índices inflacionários não foi bem recebida por todos: o setor financeiro, cuja saúde econômica estava ligada aos ganhos com a inflação, sentiu o peso da estabilização, e seus ganhos se reduziram drasticamente; alguns banqueiros não tiveram sucesso em se adaptar aos novos tempos e acabaram falindo.
Temendo um efeito dominó, o governo implantou o Programa de Estímulo à Reestruturação (Proer), que oferecia socorro financeiro (o valor total foi de R$ 20 bilhões) aos bancos que fossem vítimas das mudanças resultantes da aplicação do Real. O socorro financeiro foi questionado, sendo criada uma CPI para averiguar a real necessidade de ajuda a bancos.
A busca de equilíbrio fiscal
Desde sua implementação total, em 1994, o maior desafio do Real é sustentar as contas públicas equilibradas, o que muitas vezes é conseguido à custa de investimentos estatais. Isso resulta na perpetuação de uma infraestrutura precária, que encarece ainda mais o já oneroso setor produtivo.
Tal cenário gera uma situação em que o crescimento econômico é visto como causa de desequilíbrios inflacionários, em geral contidos pelos governos FHC e Lula por meio da elevação dos juros da taxa Selic. Essa elevação dos juros, por sua vez, aumenta a dívida interna, o que pode comprometer a economia do país a longo prazo.
Por: Renan Bardine