No âmbito militar, ocorria um forte descontentamento em certos setores do Exército. A alta oficialidade frequentemente se chocava com os grupos dominantes, paralelamente, os oficiais jovens formavam um movimento que predominou a partir de 1922: o Tenentismo.
O Tenentismo representou, dentro do Exército, uma cisão entre os oficiais mais graduados, que após suas desavenças com Epitácio Pessoa haviam se acomodado no governo de Artur Bernardes, e os jovens oficiais que pretendiam mudanças políticas e sociais.
Do ponto de vista ideológico, o movimento tinha, até 1930, as seguintes características:
- Ideal de Salvação Nacional – Os tenentes viam-se como agentes da regeneração, defensores das instituições republicanas, em nome de um povo ignorante e infeliz.
- Elitismo – A insurreição caberia a um grupo, e não ao povo, despreparado e incapaz. Os tenentes, contraditoriamente, defendiam a “verdade eleitoral”, mas entendiam que as camadas populares votavam mal, e que seria mais razoável substituir o voto universal pelo voto de uma “elite eleitoral”.
- Reformas – Centralização dos poderes do Estado, moralização, nacionalismo econômico, novo sistema de ensino.
Os participantes
Alguns tenentes pertenciam à classe média, outros vinham de famílias tradicionais. Levar em conta sua origem social é importante, mas não basta para explicar o movimento. É preciso considerar também o fato de os tenentes pertencerem às Forças Armadas, uma instituição peculiar da sociedade, o que dava ao movimento a característica do “ideal de salvação nacional” e a possibilidade de utilização da via armada para atingir seus objetivos.
Dentre os principais componentes do movimento, podemos citar: Luís Carlos Prestes, Joaquim e Juarez Távora, Isidoro Dias Lopes, Eduardo Gomes, Siqueira Campos, João Cabanas e Miguel Costa.
A Revolta do Forte de Copacabana (5/7/1922) marcou o surgimento do Tenentismo como movimento armado. Ao episódio dos “18 do Forte”, seguiram-se a Revolução de 1924 (São Paulo) e a Coluna Prestes, entre 1924 e 1927.
As etapas do Tenentismo
Os “18 do Forte” de Copacabana, 1922
A sucessão presidencial em 1922 provocara uma cisão interna no Exército. Parte da alta oficialidade apoiava Nilo Peçanha em oposição ao candidato oficial, Artur Bernardes. Mesmo encerradas as eleições, que, é claro, deram vitória a este último, a agitação continuava. Hermes da Fonseca, então presidente do Clube Militar e anteriormente envolvido no episódio das Cartas Falsas, incitou as guarnições de Pernambuco a não obedecerem a Epitácio Pessoa.
Repreendido pelo ministro da Guerra, o civil Pandiá Calógeras, Hermes confirmou a incitação e não aceitou a repreensão. Foi, então, preso e o Clube Militar fechado por seis meses, o que agravou a tensão. Em 5 de julho de 1922, dezoito elementos jovens do Forte de Copacabana rebelaram-se contra o governo. Da luta que se seguiu, restaram apenas dois sobreviventes: Eduardo Gomes e Siqueira Campos.
Aprenda mais: Revolta do Forte de Copacabana.
A Revolução de 1924 – São Paulo
Desde o célebre episódio das Cartas Falsas, as quais lhe haviam sido atribuídas antes mesmo de sua eleição para a Presidência da República, Artur Bernardes despertara a animosidade de numerosos oficiais do Exército, sobretudo entre os mais jovens. Na qualidade de representante típico da República das Oligarquias o presidente era um alvo natural para os ataques dos tenentes. Quanto aos oficiais-generais, porém, a maioria o apoiava, pois eram militares perfeitamente identificados com o sistema, ao qual serviam e do qual recebiam benefícios.
A Revolução de 1924 foi um movimento de cunho essencialmente tenentista, embora seu chefe fosse o general Isidoro Dias Lopes (daí a denominação popular de Revolta do Isidoro). O levante irrompeu em São Paulo no dia 5 de julho de 1924, exatamente dois anos após a revolta dos 18 do Forte. O presidente do Estado, Carlos de Campos, resistiu aos revolucionários, apoiado em algumas unidades da Força Pública até a chegada de tropas federais.
Aumentando a pressão governista, os revolucionários decidiram retirar-se da cidade, após 22 dias de ocupação. A retirada ocorreu em boa ordem, em direção ao interior do Estado de São Paulo, e depois para o oeste do Paraná. Nas proximidades da foz do Iguaçu, em abril de 1925, a coluna paulista efetuou sua junção com outra coluna revolucionária que, sob a chefia do capitão Luís Carlos Prestes, vinha do Rio Grande do Sul.
A Coluna Prestes – 1924/1927
Assim se chamou a coluna que, sob o comando de Miguel Costa e tendo Luís Carlos Prestes como chefe de Estado-maior, percorreu mais de 24.000 km (somando-se os itinerários de seus quatro destacamentos) pelo interior brasileiro. A marcha da Coluna Prestes representou o momento máximo do Movimento Tenentista, com seu objetivo de conscientizar a população do País e incitá-la contra as estruturas políticas vigentes.
Militarmente, a Coluna Prestes pode ser considerada um sucesso. Com efetivos que jamais ultrapassaram 1.500 homens (as perdas geralmente eram compensadas por novas adesões) e sempre prejudicados pela insuficiência de munições, os revolucionários conseguiram evitar o cerco e a captura por parte das forças, numericamente superiores, que os perseguiam. Ao todo, a Coluna Prestes travou 53 combates, sem ter sido derrotada em nenhum deles.
Politicamente, porém, a Coluna fracassou. O povo, de um modo geral, permaneceu apático (exceto certos elementos da classe média e membros de oligarquias dissidentes), quando não, hostil ao movimento. Os “coronéis”, com suas forças irregulares, deram um importante apoio às unidades do Exército que lutavam contra a Coluna. Até mesmo cangaceiros, como o célebre Lampião, foram mobilizados contra os rebeldes.
Em fevereiro de 1927, já no governo de Washington Luís, os últimos remanescentes da Coluna Prestes (cerca de 800 homens) internaram-se na Bolívia. O Tenentismo provara, definitivamente, sua incapacidade em conquistar o poder apenas com seus recursos.
Aprenda mais: Coluna Prestes.
Por: Renan Bardine