Diferentemente do Antigo Egito que era cortado pelo Nilo, a Mesopotâmia era abarcada pelos rios Tigre e Eufrates, espaço relativamente mais aberto à investida de inúmeros povos oriundos de regiões a norte, leste e oeste.
Tais povos conviveram e trocaram variadas informações, moldando uma cultura entre os dois rios. Daí alguns autores afirmarem a existência da civilização mesopotâmica (mesos = meio/entre; potamos = rios).
Devemos considerar, ainda, que a história da Mesopotâmia Antiga durou cerca de 3,5 mil anos, nos quais invasões continuadas alteraram os elementos primitivos originários da sua civilização.
Na comparação entre sumérios e assírios, por exemplo, há uma diferença cronológica de aproximadamente dois mil anos. Por tais razões, vários historiadores e arqueólogos afirmam a existência de civilizações mesopotâmicas, realçando a ideia de diversidade como uma característica cultural daquele espaço.
Em termos gerais, respeitando a ordem cronológica, podemos afirmar a presença de alguns grupos mais significativos para o conjunto da história mesopotâmica antiga. Dentre tais grupos, destacamos os sumérios, os acadianos, os amoritas, os elamitas, os assírios e os caldeus.
Os sumérios
Considerados os primeiros habitantes da região, os sumérios não têm uma origem bem esclarecida. Sabemos que por volta de 4500 a.C. eles fixaram-se na parte mais meridional da Mesopotâmia, uma região pantanosa, alagadiça, espaço que corresponde às proximidades da foz dos rios Tigre e Eufrates, área próxima ao golfo Pérsico.
Os sumérios foram os primeiros habitantes da Mesopotâmia. Alguns autores consideram o povo sumério como base das civilizações mesopotâmicas, pois algumas de suas realizações foram incorporadas por grupos humanos que invadiram a região posteriormente ao florescimento de sua cultura.
No que diz respeito à história suméria, podemos assinalar a organização de cidades como Ur, Uruk, Eridu, Nippur e Lagash, núcleos urbanos governados por sacerdotes denominados patesi, que cuidavam da ordem terrena e da comunicação com os deuses.
Dessa forma, compreendemos a existência de microestados de caráter teocrático entre os sumérios. A vida era regulada conforme preceitos religiosos que definiam divisões de trabalho e a ordem social propriamente dita, organizada com dois grupos básicos, diferenciados em aristocracia e população camponesa.
São fatos associado aos sumérios:
- o desenvolvimento da roda;
- a criação de uma escrita traçada em tabletes de argila com inscrições na forma de cunha (escrita cuneiforme) – e, com ela, os primeiros códigos de leis –;
- a elaboração de uma arquitetura de tijolos, cujas construções mais monumentais foram os templos chamados zigurates;
- a construção dos primeiros diques, sistemas de drenagem de água;
- e, por fim, uma mitologia explicativa do aparecimento do ser humano e da natureza. Há lendas sobre a criação do homem a partir do barro, e do dilúvio, narradas na escrita cuneiforme. O livro mais antigo de que se tem notícia é de origem suméria, a Epopeia de Gilgamesh.
Os sumérios foram dominados por um povo que se estabeleceu mais ao norte de sua área. Tal povo, de origem semítica, ficou conhecido por acadiano. Isso se deve à fundação de seu núcleo urbano, a cidade de Akad, feita pelo guerreiro “Sargão, o Antigo”, por volta de 2500 a.C.
Os acadianos
Os acadianos cobiçavam as terras mais ao sul dominadas pelos sumérios, pois eram mais férteis e garantiam suprimentos por mais tempo. Aos poucos, as ações militares dirigidas ao sul pelo acádios (ou acadianos) submeteram as cidades sumérias e Akad se tornou o centro político de toda a região. A submissão dos sumérios ao poder do norte foi a base de constituição do primeiro império da Mesopotâmia, o Império Acadiano.
O domínio de Akad se estendeu por terras mais setentrionais da Mesopotâmia. Eram cobrados tributos das populações dominadas na forma de trabalho. Para alguns autores marxistas, estavam lançadas as condições para o modo de produção asiático estudado na história do Egito Antigo. Contudo, o Império Acadiano não durou muito. Movimentações internas contra o domínio de Akad e pressões de povos que desejavam ocupar a Mesopotâmia minaram a supremacia acadiana.
Por volta de 2000 a.C., elamitas e amoritas invadiram a região. Eram povos oriundos do deserto da Arábia que se associaram, mas o poder maior cabia aos amoritas, fundadores da Babilônia.
Os babilônios
Os amoritas construíram um império maior que o dos acadianos. A diversidade de povos submetidos à ordem babilônica era grande, o que exigia grandes esforços para a manutenção da estabilidade nas relações entre os vários grupos.
Foi um período de intensas trocas comerciais e de elevada produtividade. Alguns estudiosos se perguntam de que forma foi possível a relativa estabilidade verificada com o domínio da Babilônia. Encontram como resposta a existência de um aparelho militar poderoso e de um código de leis unificador dos povos.
Devemos considerar, em primeiro lugar, que a acomodação humana (sedentarização) a determinados espaços, principalmente num quadro de crescimento demográfico, exige a aceitação de determinadas regras de convívio social. Tais regras podem ser definidas por meio de justificativas sobrenaturais (religiosas) e por meio da imposição militar ou, ainda, por ambas atuando ao mesmo tempo.
O caso babilônico é exemplar. Encontramos em seu imperador, Hamurabi, a junção entre força militar e religiosa. Hamurabi, governante do Império Babilônico entre 1728 a.C. e 1686 a.C., apresentou aos vários povos que habitavam a Mesopotâmia um código de leis, visando ao ajustamento das populações a apenas um conjunto de regras. O código de Hamurabi buscava uniformizar as relações entre as várias comunidades humanas, consolidando a hegemonia da Babilônia sobre aquele mundo conhecido.
A hegemonia babilônica foi quebrada com uma nova onda de invasões (hititas e cassitas) e, posteriormente, com o ataque incisivo do povo localizado na parte mais setentrional da Mesopotâmia, o povo assírio.
Os assírios
O povo assírio foi caracterizado pelo militarismo permanente, pois sua região, Assur, era passagem entre a Ásia e o Mediterrâneo, sofrendo constantes movimentações humanas (invasões).
Assim, para preservar aquele espaço, os assírios viviam em treinamento militar, desenvolvendo técnicas de guerra e instrumentos de combate como lanças, longas espadas e escudos de ferro. Utilizavam carroças com rodas reforçadas puxadas a cavalo em suas campanhas militares. A arte da guerra foi um dos legados dos assírios para a cultura mesopotâmica.
Sargão II, Senaqueribe e Assurbanípal foram alguns dos chefes assírios. Seus nomes estão associados à montagem de um dos maiores impérios orientais da Antiguidade, que envolveu toda a Mesopotâmia, a Palestina e o Egito.
Relatos e mais relatos apontam o caráter violento dos assírios. Encontramos na escrita cuneiforme informações sobre as atrocidades cometidas por eles contra os povos dominados. A ideia era destruir os símbolos de poder do inimigo para afirmar os valores assírios sobre as terras conquistadas.
Podemos verificar que tais práticas assírias eram frequentes, indicando, de fato, a existência de conspirações contra o poder imperial, contudo a desagregação do império foi fruto de uma articulação entre forças internas e externas.
Ao tratarmos das forças internas, devemos lembrar a insatisfação dos antigos babilônios em relação ao poder de Nínive. A Babilônia pretendia voltar a ser o centro político da Mesopotâmia, mas os babilônios não possuíam forças suficientes para superar o poder assírio.
A situação foi alterada quando um grupo originário do planalto do Irã passou a pressionar as fronteiras do Império Assírio: o povo meda. Os medas (ou medos) eram guerreiros arianos que buscavam novas terras, invadindo primeiramente a chamada Baixa Mesopotâmia (Suméria). Daí seguiram para a Babilônia e firmaram acordo com a população local para combater as forças assírias.
O resultado foi a destruição do Império Assírio e o deslocamento do centro de poder para a Babilônia. Os estudiosos falam, então, do Segundo Império Babilônico, conhecido também como Império Caldeu.
Os caldeus
O último império mesopotâmico teve como figura mais importante Nabucodonosor, responsável pela conquista dos hebreus do Reino de Judá em 586 a.C., enviando-os para a realização de trabalhos forçados na Babilônia (Cativeiro da Babilônia). Alguns autores afirmam que a cidade teria se tornado literalmente um canteiro de obras, destacando-se entre elas os Jardins Suspensos da Babilônia.
O Império Neobabilônico durou pouco, pois as investidas dos persas, comandados por Ciro, determinaram o fim da experiência imperial babilônica e o início de um poderio ainda maior, o Império Persa, em 539 a.C.
Cultura mesopotâmica
Os povos mesopotâmicos criaram uma sofisticada cultura para os padrões da época.
Podemos destacar a crença politeísta com a realização de culto a figuras com forma humana (antropomórficas). As divindades eram divididas em deuses celestes e deuses terrenos.
Os deuses celestes estavam associados aos astros e os deuses terrenos se vinculavam aos fenômenos da natureza. Ea, Bel, Enlil, Marduk, Ishtar eram algumas das divindades mais cultuadas.
A escrita cuneiforme criada pelos sumérios e incorporada pelos povos mesopotâmicos foi outra contribuição fundamental. Houve variações significativas nos sinais gravados nos tabletes de argila, mas a utilização do material e a inscrição na forma de cunha foram a referência básica dos registros escritos.
A argila também foi utilizada para a realização de monumentais obras arquitetônicas. O método de elaboração de formas de madeira em que era colocado o barro até que endurecesse ao sol para depois ser queimado se constituiu em elemento fundamental para a construção de barragens, templos, casas, palácios, enfim, de todo o espaço marcadamente citadino.
Obras legislativas e literárias foram produzidas pelos povos mesopotâmicos, configurando todo o universo de valores compartilhados socialmente e validados pela atuação dos Estados. Tais Estados integravam o universo civilizacional mesopotâmico, pois, forjados nas relações de poder de ordem coletiva, garantiam a relativa estabilidade necessária para a cultura material e imaterial da região.
Além destes aspectos da cultura mesopotâmica, podemos assinalar, ainda, a crença na predestinação pelos astros, levando à fixação dos signos do zodíaco (horóscopo). No que diz respeito ao destino humano, o fim último, a morte, era vista como inescapável. Assim, a visão mesopotâmica era fatalista, diferente da civilização egípcia que acreditava na vida após a morte.
Bibliografia:
LÉVÊQUE, Pierre (Dir.). As primeiras civilizações: da Idade da Pedra aos povos semitas. Lisboa: 70, 2009.
Veja também:
- Arte Mesopotâmica
- Economia e Sociedade Mesopotâmica
- Religião Mesopotâmica
- Legado Cultural da Mesopotâmia