O mapa-múndi é aquilo que o mundo sugere: uma representação do mundo todo em forma de mapa. Também conhecido como planisfério, o mapa-múndi é uma forma de representar o globo terrestre de forma plana, para facilitar a visualização dos países e regiões, oceanos, sua localização e distância em relação aos demais e oferecer uma orientação geográfica em forma de coordenadas – especialmente por meio das linhas imaginárias (paralelos e meridianos).
Ao longo da história o mapa-múndi – basicamente uma projeção da superfície esférica terrestre num plano – foi modificado e teve uma evolução em relação à forma e maneira com que sua projeção é feita. Como estamos transferindo uma superfície esférica para apenas duas dimensões, distorções são inevitáveis, mas cada projeção trabalhou essas distorções de modo distinto.
História do mapa-múndi
Os mapas do século XVI e anteriores esboçavam elementos iconográficos num contexto mais artístico que científico. Gerardus Mercator em 1569 produziu um mapa que influenciaria a cartografia até nosso tempo. O planisfério que serviria à navegação foi o primeiro a usar a projeção criada por Mercator. O modelo de Mercator é atualmente criticado pelo seu “eurocentrismo“. Embora hoje tenhamos a visão de que esse modelo beneficia países desenvolvidos em termos de tamanho e destaque, a verdade é que na época das navegações – que partiam todas de portos europeus para percorrer o mundo – fazia sentido ter a Europa em maior destaque.
A verdade é que a cartografia de Mercator, um geógrafo e cartógrafo holandês, foi ricamente influenciada pela escola cartográfica portuguesa. Os portugueses, nessa altura, haviam chegado à América como os espanhóis, bem como percorrido praticamente toda a costa africana e boa parte do sul da Ásia. As faixas costeiras dos maiores continentes estavam mapeadas e, unindo referências de diversos navegadores e cartógrafos, Mercator tinha um rico pano de fundo para criar um planisfério e um mapa que compreendesse todo o mundo conhecido até então.
Projeção de Mercator
O primeiro mapa-múndi de Mercator, embora hoje representado de uma forma mais moderna, difere bastante daquilo que conhecemos como mapa mundial. O planisfério original de Mercator obviamente continha enormes imprecisões e aproximações em relação às Américas, Extremo Oriente e Oceania e Antártida, mas trazia praticamente o desenho perfeito da Europa, África e sul da Ásia, áreas já percorridas e mapeadas por portugueses na época.
Hoje, a função mais importante do mapa-múndi, e a mais usual, é a localização das centenas de países ao redor do globo, e oferecer uma referência geográfica da relação entre os continentes e oceanos. De qualquer modo, a projeção de Mercator possui algumas características-chave:
- Trata-se de uma projeção “cilíndrica”.
- Está intimamente ligada com o período das Grandes Navegações.
- Por ser cilíndrica, possui imensa distorção nas regiões próximas dos pólos, onde a circunferência real na esfera do planeta é menor.
- Tem a Europa como centro.
Projeção de Gall-Peters
Essa projeção, apesar de também cilíndrica, oferece compensações. Embora a distorção nos pólos ainda seja acentuada, ela torna-se achatada. O objetivo inicial do idealizador, James Gall, em 1885, era fazer com que as áreas dos países estivessem em proporção com suas áreas territoriais reais. O modelo caiu no esquecimento por quase um século, sendo retomado por Arno Peters, em 1973.
Ao contrário do modelo de Mercator, o achatamento nos pólos faz com que os países em desenvolvimento, ou o “Terceiro Mundo” do século XX, pareça maior e mais destacado que o restante. Por razões óbvias, o modelo foi bastante criticado e raramente é utilizado para fins didáticos.
Projeção de Robinson
Um modelo bastante popular em alguns atlas escolares é a projeção de Robinson. Criada em 1963, essa projeção não se baseia em um complexo modelo matemático, mas sim na própria geometria de paralelos e meridianos e mantém parte do corte do globo em circunferência, para equilibrar proporções e áreas, além dos ângulos.
A ideia foi aprimorar o design original de Mercator, e esse modelo é até hoje considerado um dos que melhor reproduz o desenho e a área equivalente dos países.
Outras formas de projeção do globo
Há diversas formas de projeção que caíram no esquecimento ou se mostraram pouco práticas para fins didáticos – algumas delas mais recentes e outras muito, muito antigas. Uma forma que até hoje pode ser encontrada em alguns livros e atlas é a chamada projeção de Nicolosi. O siciliano, em 1660, reformulou uma projeção realizada inicialmente por volta do ano 1000 pelo matemático iraniano Al Biruni para apresentar o globo terrestre de forma mais proporcional. O modelo Nicolosi separa o mapa-múndi em dois círculos lado a lado, visando assim reduzir as deformações causadas pela projeção cilíndrica.
Geometricamente, há milhares de maneiras de planificar o globo. E, de fato, algumas centenas de projeções foram ao longo dos séculos publicadas. Mesmo antes das Grandes Navegações – quando os europeus “descobriram” que a Terra era esférica – há planisférios registrados por historiadores de diversas origens, especialmente da Ásia, mas também modelos construídos pelos gregos.
Mesmo hoje, com os instrumentos de navegação e GPS, como Waze e Google Maps, as projeções cartográficas ainda são amplamente utilizadas. Basta pensar que, a despeito da maior proximidade, quando consultamos um mapa no Google, ainda o vemos em um plano – quando a Terra continua a possuir a superfície esférica. Por sinal, o próprio Google adotou, ainda em 2005, uma variação da projeção de Mercator como base para seus mapas – a Web Mercator.
Os Continentes e Oceanos
Ao observarmos a superfície da Terra, utilizando um mapa mundial (globo terrestre, mapa-múndi ou fotografias tiradas por satélites artificiais) chegamos facilmente à conclusão de que as massas líquidas (oceanos e mares) superam a superfície das terras emersas (continentes e ilhas). De fato, os 510 milhões de quilômetros quadrados da superfície terrestre estão assim distribuídos:
149.000.000km2 | 361.000.000km2 |
terras emersas (continentes e ilhas) | águas (oceanos e mares) |
De uma maneira mais macro, tanto as porções de água quanto as faixas terrestres são divididas, respectivamente, em 5 oceanos e 7 continentes. Como é possível ver com o auxílio do mapa-múndi, a porção de água na superfície terrestre é dividida em cinco oceanos:
- Oceano Atlântico. Está entre as Américas e os continentes europeu e africano.
- Oceano Pacífico. O maior dos oceanos, separa as Américas da Ásia e Oceania.
- Oceano Índico. Ao sul da Ásia, também separa a África da Oceania.
- Oceano Glacial Ártico. Porções de água ao norte dos continentes e ao redor do Pólo Norte.
- Oceano Glacial Antártico. Porções de água ao sul dos continentes e ao redor da Antártica.
Embora os oceanos glaciais possam ser considerados, em muitos aspectos, como extensões dos demais oceanos, foram geograficamente separados por uma característica singular: especialmente no caso do Ártico, as águas permanecem congeladas em boa parte do ano. Além disso, são regiões que possuem correntes oceânicas próprias, aspectos de biodiversidade únicos e, em termos de navegação, objetivo original dos mapas, também são bastante diferentes dos demais oceanos.
Já os continentes estudados e mapeados no mapa-múndi atual possuem uma categorização muito mais geopolítica do que física. Fisicamente, qualquer porção de terra mais extensa que a Groenlândia pode ser considerada um continente – isso coloca a Austrália como um continente isolado, assim como a Antártica, além de unir a América em um só bloco e a Europa, a Ásia e a África num segundo grande bloco (Eurafrásia). Em termos políticos, contudo, e é o que o mapa-múndi atual traz, temos seis (às vezes sete ou oito) continentes:
- América
- África
- Ásia
- Europa
- Antártica
- Oceania
Em alguns mapas e segundo algumas correntes na geografia, a América pode ser dividida em América do Sul e América do Norte, ou ainda incluir uma terceira divisão, que compreende a América Central e Caribe. Para fins geográficos, iremos manter a América como um único continente, no entanto.
Os continentes
Tomando por base a divisão do planisfério em seis continentes, podemos separar de forma geográfica, mas também política e econômica as grandes faixas de terra do mundo apenas usando o mapa-múndi. Com a ajuda também dos oceanos, é possível distinguir esses continentes de maneira mais fácil.
A divisão por continentes auxilia também na divisão dos países em si. São raros os países com territórios em mais de um continente, embora haja alguns casos, como a Rússia (que possui parte do território da Europa e o restante na Ásia), a Turquia (que possui uma pequena faixa de seu território na Europa) e a Indonésia (com parte do território na Oceania e o restante na Ásia).
Além dos oceanos, outras faixas de água e acidentes geográficos estabelecem uma divisão física entre os continentes. O Mar Mediterrâneo, por exemplo, separa o Norte da África do Sul da Europa. em outros casos, como a divisão da própria Europa e da Ásia, há uma conjunção de acidentes geográficos estabelecendo os limites dos continentes (neste caso, os Montes Urais, o rio Ural, os mares Negro e Cáspio e os Montes Cáucasos.
Longitude e latitude
Uma segunda parte importante de qualquer mapa-múndi são as linhas que determinam a longitude e a latitude. Elas permitem que saibamos as distâncias reais entre cada continente, oceano e país. A latitude e a longitude são distâncias determinadas, em graus (medida angular), a partir do Meridiano de Greenwich (uma linha imaginária vertical) e da Linha do Equador (um paralelo que divide o globo terrestre ao meio, na horizontal).
As projeções terrestres todas, atualmente, trazem linhas azuis que cortam o mapa todo de forma “quadriculada”. A distância entre cada linha vertical que você vê no mapa-múndi corresponde, na maioria dos mapas, a um ângulo de 15º em relação à circunferência da Terra. Essa é uma parte engraçada: se você contar, como trata-se de uma circunferência, deveria encontrar 25 linhas, dividindo o mapa em 24 faixas verticais. Contudo, na maioria dos mapas, apenas 18 a 20 linhas são encontradas. Isso significa que parte do globo não está nesses mapas – e essa parte geralmente corresponde à parte mais central do Oceano Pacífico, onde não há qualquer grande porção de terra e mesmo os arquipélagos ou ilhas habitadas são raros.
Já na horizontal, não há tantas linhas e o globo está, em geral, inteiramente mostrado. Contudo, dá-se mais atenção a alguns poucos paralelos no mapa, sendo que esses cinco estão em destaque na maioria dos mapas-múndi:
- Equador
- Trópico de Câncer
- Trópico de Capricórnio
- Círculo Polar Ártico
- Círculo Polar Antártico
Essas linhas, além de oferecerem uma boa referência em termos de distância, têm especial importância no que diz respeito ao clima. As influências dos diversos climas no mundo estão em geral ligadas à distância que cada região se encontra em relação ao Equador – a longitude. Quanto mais distante de o Equador, mais frio tende a ser o clima numa região – seja para norte, em direção ao Trópico de Câncer e ao Círculo Polar Ártico, ou para sul, em direção ao Trópico de Capricórnio e ao Círculo Polar Antártico.
Referências:
- SCOTTON, Giovanni Colossi; NOGUEIRA, Ruth Emilia. Um outro paradigma para análise do Mapa-Múndi de Mercator de 1569. Geosul, v. 31, n. 62, p. 39-58, 2016.
- SIMIELLI, Maria Elena Ramos. Geoatlas. 33ª edição. São Paulo: Ática, 2009.
- SNYDER, John P. Flattening the earth: two thousand years of map projections. University of Chicago Press, 1997.
- STANLEY, Albert A. Map Projections for Modern Charting. The Military Engineer, v. 40, n. 268, p. 55-58, 1948.
Por: Carlos Artur Matos