Grande sertão: veredas foi publicado pela primeira vez em 1956 e reeditado no ano de 1958, texto este que permaneceu definitivo. João Guimarães Rosa é conhecido por fazer sua literatura em forma de prosa, porém este é o único romance do autor que simboliza sua prosa mais extensa com mais de 600 páginas e ausente de capítulos. Foi esta obra a maior e mais importante realização de Guimarães Rosa como escritor.
Em Grande Sertão: veredas, o autor conseguiu fundir uma linguagem experimental dotada de metáforas e expressões linguísticas regionais características do sertão mineiro. Essa fusão de elementos linguísticos denota a primeira geração do modernismo e a temática regionalista refere-se à segunda geração do modernismo. Por esses motivos, percebe-se o porquê desta obra rosiana ser considerada a maior realização do autor e uma inovação para a literatura brasileira.
A história se passa no sertão e por essa razão apresenta palavras que de início causam confusão e estranheza ao leitor que desconhece a região e suas expressões inerentes. Mas, toda essa confusão de entendimento dos diversos nomes e regiões que aparecem na obra é feita de maneira proposital pelo autor. É possível compreender que com essa intenção Guimarães Rosa cria a metáfora de um labirinto que representa a vida. Assim, a palavra travessia está fortemente presente em Grande Sertão: veredas e, por analogia, a travessia desse labirinto simboliza a travessia da vida.
A obra é construída por uma longa narrativa oral em que Riobaldo, também conhecido como Tatarana ou Urutu-Branco, um ex-jagunço já envelhecido, relata sua experiência de vida a um interlocutor que não se manifesta, mas é possível perceber sua opinião através das inferências de Riobaldo. Portanto, Riobaldo é o narrador-personagem do livro.
Suas histórias de vingança, lutas, perseguições, medos, dúvidas e amores pelos sertões de Minas Gerais, de Goiás, do sul da Bahia são contadas sempre com uma reflexão sobre tudo que lhe aconteceu. Essas histórias vão sendo entrelaçadas e expostas com a preocupação do narrador-personagem de discutir a existência ou não do diabo, fato do qual depende a salvação de sua alma, pois, quando jovem, para vencer seu maior inimigo Hermógenes, Riobaldo parece ter feito um pacto com o demo. Entretanto, apesar da evidência disso em algumas passagens da obra, não fica claro a existência e confirmação deste, assim, cabe ao leitor fazer suas interpretações.
“Nonada. O diabo não há! É o que eu digo, se for… Existe é homem humano.”
“O Diabo no meio da rua.”
O romance é marcado por dois grandes conflitos narrados por Riobaldo, o primeiro deles é contra Zé Bebelo e os soldados do governo e tem como líderes João Goanhá, Ricardão, Hermógenes, Joça Ramiro, Sô Candelário e Tirão Passos. Zé Bebelo é pego e julgado pelo tribunal composto por esses líderes chefiados por Joça Ramiro. Hermógenes e Ricardão defendem a pena capital para Zé Bebelo, mas, no fim do julgamento, Joca Ramiro sentencia-o a liberdade com a condição de que ele vá para Goiás e não volte sem ordem. Assim, o primeiro conflito tem fim.
O segundo conflito surge depois de um período de paz no sertão quando Gavião-Cujo, um jagunço, anuncia que “Mataram Joca Ramiro!…”, então, sob liderança de Zé Bebelo que retorna para vingar a morte daquele que lhe concedeu a liberdade, o bando de Riobaldo e Diadorim e demais chefes lutam contra o grupo rival liderado pelos assassinos de Joca Ramiro, Hermógenes e Ricardão, os traidores do bando. Essa guerra se finda com o romance com a morte de Hermógenes na batalha final no Paredão.
Riobaldo vê o mundo com indiferença. O mal é apenas projeção e o ser é a razão e seu temor, o vir a ser. O narrador diz que o “medo agarra a gente é pelo enraizado” e estar preso às raízes pode impossibilitar um olhar amplo para conquistas de novos horizontes, pois estar preso às limitações dos sentidos nos faz permanecer na mesma situação, culpando o medo e o remorso pela inação.
Grande Sertão: veredas abre parênteses para inúmeras análises literárias, pois é uma obra abrangente que discute a travessia da vida com todos os seus conflitos e labirintos diabólicos. O romance retrata o homem com suas projeções, ações e omissões em um mundo indiferente. É a afirmação dos conflitos humanos construindo e destruindo as teias de vivências; vivendo os paradoxos necessários.
Referências:
MACHADO, Adriana Rodrigues. O mito do pacto em Grande sertão: veredas. Revista Nau Literária, Porto Alegre, vol. 4, n. 2, jul/dez 2008.
ROSA, João Guimarães. Grande sertão: veredas. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006.
VIANA, Abel da Silveira. A confissão de Riobaldo na ficção de Grande sertão: veredas. Revista Fazendo gênero 8 – Corpo, Violência e Poder, Florianópolis, 25 a 28 ago. 2008.
Grande Sertão: Veredas – Resenha e análise do livro de Guimarães Rosa. Disponível em: http://guiadoestudante.abril.com.br/estude/literatura/materia_419340.shtml. Acesso em 23 out. 2012.
Por: Miriã Lira