Considerado um dos principais romances do período realista português, O crime do padre Amaro é um romance de tese, ou seja, em que o autor discute ideias ou defende alguma proposição. Nele, Eça de Queirós questiona o celibato clerical.
Resumo do livro
O livro O Crime do Padre Amaro tem como tema a influência do clero católico na vida provinciana, típica do interior de Portugal do século XIX. O cenário é a sociedade leiriense (Leiria), da qual a senhora Joaneira, conhecida por San Joaneira, pelo grau de devoção pelos santos e pela igreja, é uma espécie de líder religiosa, com seus regulares serões.
Amaro, tendo ficado órfão na infância, é criado na casa da marquesa de Alegras, onde seus pais eram serviçais. A marquesa decide enviá-lo para o seminário. Recorreu à influência política e foi nomeado pároco de Leiria, sede do bispado. Hospedado na casa da senhora Joaneira, acabou se envolvendo com a filha, Amélia.
Desse relacionamento resulta Amélia grávida que, sozinha, passa a sofrer as humilhações oriundas do rude preconceito que lhe são impostas pela sociedade local, extremamente conservadora e provinciana de Leiria.
Para não levantar suspeitas, porém, Amaro leva Amélia para a propriedade rural de dona Josefa, madrinha de Amélia. Lá, dona Josefa, irmã do cônego Dias – um padre rico, conselheiro de Amaro e amante da senhora Joaneira – auxilia a moça na hora do parto. Para que dona Josefa aceitasse Amélia, Amaro contou-lhe, em segredo, que a moça engravidara de um homem casado e que, para evitar escândalo, a trouxera para a roça.
A medida que se aproxima o dia do parto, Amélia passa a ter maus pressentimentos. Após o nascimento de um menino, este foi entregue ao padre Amaro, que o levou a uma ‘tecedeira de anjos” – assim chamada porque dava fim aos recém-nascidos —, com a recomendação de que o mantivesse vivo. Mas Amélia morre depois de dar à luz. Ao saber disso, Amaro sai em busca da mulher com quem havia deixado o filho, para retomá-lo, mas a criança também já havia morrido. Desnorteado, Amaro deixa Leiria e vai para Lisboa, protegido pelos interesses da Igreja Católica.
Algum tempo depois, Amaro encontra-se com o cônego em Lisboa. Falam do passado, e o padre comenta que os sentimentos que teve com a morte de Amélia – remorso, tristeza e depressão – estavam superados.
Análise do livro
Amélia fora criada pela mãe, Joaneira, nos conformes de formação muita católica, da qual vinham o respeito e a admiração pelos padres e, por extensão, a total confiança neles, além de se tratar de moça dócil. Tudo isso concorreu para Amélia facilmente apaixonar-se por Amaro. Esse cenário fortalece um dos temas do autor que é a denúncia do oportunismo do clero, diante da crença e da falta de senso crítico dos fiéis, relativamente às práticas cotidianas da Igreja.
O abandono de Amélia à sua própria sorte e a isenção de Amaro aos olhos da instituição religiosa da qual fazia parte estruturam outra crítica de Eça de Queirós: o corporativismo do clero católico na defesa de seus membros, mesmo em detrimento da felicidade ou da dignidade de seus próprios fiéis.
Outras denúncias feitas pelo autor são o provincianismo da sociedade, seu conservadorismo hipócrita e a ignorância da elite política portuguesa considerando a realidade decadente da pátria, mediante as mudanças modernizadoras que vinham acontecendo em países como França e Inglaterra.
Por: Wilson Teixeira Moutinho
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