Acreditando na capacidade da ciência, Auguste Comte procurou desenvolver a lei dos três estados, uma teoria que permitisse o entendimento do processo de evolução das sociedades humanas, como aquele inaugurado com sucesso pelas ciências naturais.
Comte definiu a existência de três estados ou estágios de desenvolvimento das sociedades, em que estas abandonariam as antigas crenças e formas de conhecimento para, lentamente, rumarem a um estado positivo dominado pela razão científica e pelo progresso, garantindo assim a satisfação da sociedade.
Primeiro estado
O primeiro estado seria o teológico. Nele, as sociedades ainda se encontrariam devidamente influenciadas pelos valores espirituais e dominadas pelos dogmas que mascaram a realidade social em nome do mistério divino.
Nesse estado as sociedades ainda não valorizam os homens e as mulheres ou a natureza ao seu redor, de modo que esta é compreendida como atributo divino ao qual a humanidade deve ser fiel, sem jamais questionar.
É um estágio de desenvolvimento em que se pode perceber a centralidade dos mitos e/ou da religião, o que inviabiliza a investigação científica da natureza em função exatamente de sua relação dogmática com o conhecimento.
Segundo estado
O segundo estado, o metafísico, é um momento de transição. Nesse caso, abandonam-se os valores espirituais, mas não plenamente, de modo que as primeiras investigações sobre a natureza começam a ser feitas, limitando-se exclusivamente a questionamentos intelectuais e abstratos, desprovidos de qualquer comprovação prática.
Nesse aspecto, o metafísico corresponderia ao momento em que a filosofia substitui o dogma e a teologia como formas de concepção do mundo e passa a investigá-lo, ainda que de forma especulativa, contemplativa.
Esse estado seria a condição para o surgimento do terceiro e último, o positivo.
Terceiro estado
O estado positivo caracteriza-se pela existência de uma ciência que investiga a natureza e comprova as descobertas realizadas de modo a garantir a aplicação prática destas, levando ao desenvolvimento tecnológico e a mais conforto material.
Para Comte, esse seria o último estágio civilizacional e corresponderia, de forma geral, à situação dos países europeus que viviam a modernização urbano-industrial do século XIX, passando a deter uma compreensão e transformação da natureza nunca alcançada pelas gerações e civilizações anteriores.
Comte, no entanto, não estava satisfeito com sua concepção teórica da realidade, mesmo porque passou a perceber um fator que contrastava com sua teoria positivista: a sociedade industrial contemporânea passava por transformações profundas nos costumes, de modo que o senso moral e ético se perdia em nome do lucro e da acumulação de riquezas.
Isso o fez debruçar-se sobre a questão da moral. É o entendimento de que haveria uma perda de parte dos valores morais e éticos durante o século XIX que levaria Comte, no final de sua vida, a dedicar-se à criação de uma “religião da humanidade”, uma doutrina, para Comte, desprovida do caráter dogmático das religiões tradicionais e tendo na razão e no caráter moral elevado os valores de sua sustentação.
Desta forma, a “religião da humanidade” não se pautava pela existência de um Ser divino – essa concepção continuava a ser negada por Comte –, mas pela realização pura e simples do altruísmo entre os indivíduos: cada um passaria a se preocupar com o próximo, de modo a fazer sempre o bem.
Mesmo marcada pelo cientificismo, essa concepção religiosa levou parte significativa dos intelectuais a se distanciar de Comte. Sua dedicação à construção de uma “religião da humanidade” iria também assinalar uma ruptura com outros pensadores do período, incluindo seu discípulo Émile Durkheim (1858-1917), um dos maiores responsáveis pelo desenvolvimento posterior da sociologia.
Por: Wilson Teixeira Moutinho