A arte chinesa é particularmente conhecida pelas cerâmicas, existentes desde a pré-história. Um fato curioso e talvez só possível em um país oriental, é a perpetuação de alguns estilos desde aquela época até, praticamente, o século XIX.
Os chineses foram ótimos exploradores das potencialidades de cada material utilizado para realizar sua arte (seja ele papel, bronze ou porcelana), preparando ritualmente as substâncias a serem aplicadas sobre eles.
Em concordância à filosofia do país, que vê o homem como parte da natureza, a figura humana não recebe ênfase especial quando retratada. A perspectiva é utilizada para reforçar a ideia chinesa da arte como instrumento de revelação do mundo.
Dinastias e a arte chinesa
A Dinastia Shang vai de 1766 a 1045 a.C. na região norte da China. Os vasos de bronze, com desenhos extremamente sofisticados utilizados para fins religiosos, são a especialidade do período. Há uma rica iconografia ainda não desvendada, utilizada em sua decoração, normalmente criaturas abstratas e espirais.
A dinastia seguinte, a Chou, iniciou-se em 1045 a.C.. Ainda bastante influenciada pela precedente, os vasos de bronze continuam a ser realizados, embora aumentem de tamanho e tenham desenhos mais nítidos. Foi bastante influenciada pelas ideias de Confúcio, Lao-tzu e o taoísmo. O final dessa dinastia caracteriza-se por grande opulência, expressa na arte pelo uso do jade (extremamente valorizado na cultura chinesa, por suas propriedades), além da prata e ouro na decoração das esculturas. Passa-se a conferir extremo valor à arte fúnebre. A decoração dos túmulos da nobreza e a descrição de cenas (guerras, rituais, caçadas), tornam-se extremamente famosas, evidenciando um certo domínio da técnica de criar efeitos dinâmicos à pintura.
As dinastia Qin e Han (221 a.C. – 220 d.C.) são especialmente famosas pelas esculturas. Como exemplo da primeira temos as armas de terracota, com expressivas figuras combinando realismo e estilização arcaica. Outra grande realização dessa dinastia foi a Grande Muralha.
Já a dinastia Han (206 a.C. – 220 d.C.), é conhecida pelo desenvolvimento da arte funerária, como os espelhos circulares, repletos de figuras ritualísticas (como diagramas) em suas costas, ou o relato de cenas mitológicas, a partir do desenvolvimento do uso do espaço, dos detalhes e da hierarquização de figuras (quanto maiores, mais importantes). Foi desenvolvido o efeito de movimentação das figuras, através, por exemplo, do uso de linhas ondulantes. “Cavalo Voador“ (esse animal costuma frequentar a temática da arte chinesa) é uma boa amostra da escultura dessa dinastia, com sua leveza de movimentos.
O budismo teve grande influência na arte chinesa por seis dinastias (de 220 a.C a 589 d.C.). A princípio, a arte, a serviço da nova fé, limitava-se a reproduzir temas estrangeiros, em particular os indianos. Um exemplo dessa arte são as enormes imagens de Buda. Com o passar do tempo, essa arte começa a adaptar-se à cultura chinesa, com sua iconografia característica. Os santuários Dunhuang, com afrescos fundidos à arquitetura e à escultura adaptadas aos padrões chineses atestam bem esse processo. Além disso, sob influência budista, os chineses foram o primeiro povo a valorizar o artista, uma vez que a arte auxiliava na meditação, tarefa de grandes sábios.
As dinastias do sul (420 -589), assistiram a um enorme desenvolvimento na pintura, em especial na riqueza de detalhes da representação da natureza. Além disso, foram grandes teóricos da pintura, criando parâmetros que guiariam a arte pictórica chinesa posterior. As cópias fiéis dos trabalhos passados eram extremamente valorizadas, bem como as linhas expressivas, de larguras e densidades variadas.
A dinastia Tang (618 – 906), caracterizou-se pela expansão das fronteiras chinesas e pelo intercâmbio cultural com o Japão, Índia e Ásia Central. O Chan budismo (ou o zen), é forte no período, bem como o próprio budismo, que ganha complexidade e exige dos artistas maior minuciosidade de detalhes para descrever suas imagens. A influência estrangeira, em particular a indiana, é grande, popularizando as imagens com vários braços ou cabeças. Em contrapartida, é nessa mesma dinastia (em 845) que é proibido o culto budista, em nome do confucionismo. A arte funerária ganha novo impulso no período, sendo extremamente valorizada como a “era de ouro da pintura“. Um bom exemplo dela são os murais no túmulo da Princesa Yong-t ‘ai (706). A pintura de paisagens continua a desenvolver-se, como “A jornada para Shu do Imperador Ming Huang“. Em 906, cai a Dinastia Tang, dividindo o império, até 960, em cinco dinastias rivais, num período de grande desenvolvimento da pintura de paisagens e de procura de temas alheios à política e à religião. Os pintores mais conhecidos do período são Tung Yuan e Wei Hsien, imprimindo monumentalidade à pintura chinesa.
Durante a dinastia Song (906 – 1279), temos pintores de destaque desenvolvendo a pintura de paisagens como Fan Kuan (“Viajantes entre Montanhas e Correnteza“), Mi Fei (com sua técnica comparável ao impressionismo europeu de século XIX) e Guo Xi (“Começo de Primavera“). Houve ainda no período uma diversificação de estilos, como o literal (cujo principal expoente é o imperador Hui Tsung, com suas representações precisas da natureza, acompanhadas de poemas; o posterior estilo lírico com suas composições assimétricas e valorização da intuição, representado por artistas como Ma Yuan e Xia Gui e o estilo espontâneo, dividido em dois tipos, um de origem popular e outro originado da arte caligráfica do Chan Budismo e do Taoísmo, bastante influenciado pelo estilo anterior. Mu Qi e Liang Kai são seus principais artistas. As cerâmicas do período também são particularmente famosas. Entre 1269 e 1368 a pintura sofre a influência da dominação estrangeira, com o exílio de muitos artistas.
É a dinastia Yuan, em que o estilo espontâneo continua pictórico (principalmente através de artistas exilados), utilizando-se de temas como estudo do bambu (e de seu simbolismo para o chinês), ao lado de poemas com caligrafia estilizada e dos santos do budismo e taoísmo. O estilo literal, um pouco modificado, também continua na época. Entretanto, a dinastia Yuan é particularmente conhecida por suas grandiosas obras arquitetônicas (que inspiraram a Cidade Proibida da dinastia Ming). Com a saída dos mongóis da China, temos a dinastia Ming, que durou até 1644 e caracterizou-se pela retomada dos estilos pictórios da dinastia Song (adaptados à nova época), além da emergência de uma nova criatividade, baseada nos estilos anteriores. Tung Chi-Chang (“Rios e Montanhas num Dia Claro de Outono“), é considerado um dos principais nomes da pintura da dinastia Ming. Urbanismo e arquitetura tiveram notável desenvolvimento nessa dinastia, como “A Cidade Proibida“, (conhecida como a Cidade do Imperador), nascida das ruínas mongóis. O “Portão da Suprema Harmonia“, possui elementos extremamente representativos da arquitetura chinesa de uma maneira geral (considerada bastante conservadora). Entretanto, os chineses ainda não tinham se livrado da dominação estrangeira, caindo sob o domínio da Mandchúria em 1644 (a dinastia Qing, até 1912).
A cultura chinesa de então foi absorvida pelos estrangeiros e preservada. O desenvolvimento da caligrafia e a introdução de técnicas ocidentais de perspectiva (principalmente através de jesuítas) foram características marcantes da arte da época. As cerâmicas, que já vinham tendo suas técnicas bastante desenvolvidas desde a dinastia anterior, são outra marca do período. A fina decoração em porcelana tem notável evolução, bem como a própria escultura em porcelana cresce e populariza-se. Com a Revolução Socialista de 1912, a arte chinesa toma rumo totalmente novo, uma vez que a arte realizada até então, pela primeira vez, passa a ser desvalorizada. Alguns artistas continuam a seguir os padrões antigos (sendo normalmente perseguidos por defender “A Velha Ordem”), mas a maioria se utiliza da ideologia revolucionária como tema de suas obras. A arte, com a função de servir a ideais coletivos, é controlada pelo estado, e a figura do artista (como indivíduo) perde o valor.