A TV NA DÉCADA DE 60
Os anos 60 trouxeram renovações para o veículo que alteraram profundamente o seu comportamento. As novidades tecnológicas permitiram maior agilidade e maior alcance da informação iniciando as condições para que a televisão se consolidasse como o mais importante veículo de comunicação.
Dois gêneros de programas contribuíram para que a TV se tornasse fenômeno de comunicação de massa no país: o programa de auditório (com a introdução dos comunicadores) e a telenovela.
Profissionais como Chacrinha (Abelardo Barbosa), Flávio Cavalcanti, Hebe Camargo e Silvio Santos surgiram, cada um com um estilo próprio, e todos obtendo enorme audiência para as emissoras nas quais trabalhavam. Os comunicadores Chacrinha e Silvio Santos dirigiam-se a um público de nível sociocultural mais baixo, apresentando atrações de apelo popular como calouros, gincanas, distribuição de brindes, concursos, premiações e outros.
Chacrinha tornou-se um fenômeno de comunicação analisado por estudiosos por sua maneira de apresentação, sua maneira de se vestir e pelos prêmios estranhos que distribuía ao seu auditório. Flávio Cavalcanti manteve o esquema que o havia consagrado anteriormente em programas de rádio: a divulgação da música popular brasileira, com lançamentos e concursos. Os três comunicadores valiam-se da presença de júris, compostos por pessoas famosas. O programa de Hebe Camargo tornou-se uma espécie de sala de visitas de São Paulo, recebendo todas as personalidades em passagem pela cidade. Dirigido a um público mais exigente, o programa exibia desfiles de moda, debates, bailados, entrevistas famosas e boa música popular brasileira.
O Estado investiu na propagação da televisão: construiu um moderno sistema de microondas com o dinheiro arrecadado pelo Fundo Nacional de Telecomunicações e gerenciado pela recém-criada EMBRATEL; abriu crédito para a compra de receptores; forneceu infra-estrutura para a sua expansão. A EMBRATEL tinha a função de prestar serviços no setor das comunicações nacionais, implantando, mantendo, explorando e expandindo o sistema nacional. A Globo foi pioneira na transmissão, via satélite, em1968, do lançamento da nave espacial Apollo IX.
Principais acontecimentos da década de 60:
- Inauguração a TV Cultura de São Paulo, em 1963, canal 2, pelos Diários Associados.
- Inauguração da TV Globo do Rio de Janeiro, canal 4, empresa de Roberto Marinho. Às 11h do dia 26 de abril de 1965, a Rede Globo de Televisão entra no ar em São Paulo, através do Canal 5 (antiga TV Paulista, adquirida do grupo Victor Costa).
- Em 1966, vai ao ar na Rede Globo o programa de Sílvio Santos “Música e Alegria”, aos Domingos com quatro horas de duração.
- Em 1967 é criado o Ministério das Comunicações que engloba a Empresa Brasileira de Correio de Telégrafos, a Empresa Brasileira de Telecomunicações (EMBRATEL), apesar de funcionar desde 62, e a Companhia Telefônica Brasileira
- No dia 1º de Setembro de 1969, estreia o “Jornal Nacional”, da Rede Globo, primeiro programa regular a ser transmitido em rede nacional e que marca o início das operações em rede no Brasil. Apresentado por dois locutores: Heron Domingues (o repórter Esso) e Léo Batista. Inaugurou assim um novo estilo de jornalismo na TV brasileira:
- Em 1969 TV Excelsior é extinta.
O RÁDIO NA DÉCADA DE 60
O censo de 1960 nos fornece ainda dados quando às principais características dos domicílios particulares, nos quais detalha itens tais como o abastecimento de energia elétrica e a posse de aparelhos eletrodomésticos como rádio, geladeira e televisão, entre outros.
Pode-se observar a proximidade entre os índices de fornecimento de energia elétrica e o da existência de aparelhos de rádios nos domicílios visitados – 38,54% do total com energia elétrica e 35,38% do total com aparelhos de rádio. Do mesmo modo se pode perceber que somente uma pequena parcela da população tinha acesso aos aparelhos de televisão – 4,6% do total -, sendo que se passarmos para o quadro rural, o número domicílios que possuíam de aparelhos de televisão é inexpressivo.
A proximidade entre os índices de energia elétrica e de aparelhos de rádio nos permite afirmar que ocorreu um processo de popularização do rádio, fazendo dele quase que uma presença obrigatória nos lares brasileiros, uma espécie de utensílio indispensável. Os aparelhos de rádio dos anos 40 e 50 ainda eram relativamente grandes, principalmente se comparados ao tamanho dos atuais, e necessitam de energia elétrica ou de geradores para funcionarem – os aparelhos transistorizados somente invadiram efetivamente o mercado nacional no final dos anos 60. As próprias características físicas do aparelho de rádio faziam com que ele ainda se mantivesse como um aparelho de escuta coletiva, o que permitia uma possível troca de impressões entre aqueles que se reuniam em torno dele. É importante chamar a atenção para o fato de que no período citado as famílias brasileiras mantinham o hábito de se reunirem para jantar, ouvir o rádio e conversarem sobre as notícias do dia.
Um outro indicador da popularização, ou até mesmo da banalização da presença do rádio nos grandes centros urbanos, é o de que em uma pesquisa do IBOPE (Instituto Brasileiro de Opinião Pública) de 196010), sobre o potencial efetivo dos mercados carioca e paulista para as utilidades domésticas o rádio simplesmente foi excluído, foram apuradas a existência de aparelhos de TV, colchões de mola, máquinas de lavar roupa, refrigeradores, liquidificadores e enceradeiras, ou seja, como o rádio já era presença constante nos lares brasileiros não servia como indicador de renda. Da mesma forma que, ainda em 1960, o IBOPE realizou uma pesquisa sobre a forma através da qual os habitantes de Belo Horizonte conheceram a loja Ducal e no resultado 73% dos entrevistados responderam que tal conhecimento ocorreu através dos anúncios de rádio, seguidos de 18% que o fizeram através dos jornais e 12% pela televisão.
O rádio chegava ao final dos anos 50 e início dos 60, consolidado em sua posição de meio de comunicação de massa, como um elemento fundamental na formação de hábitos na sociedade brasileira. Dos anos 30 aos 60, o rádio foi o meio através do qual as novidades tecnológicas, os modismos culturais, as mudanças políticas, as informações e o entretenimento chegavam ao mesmo tempo aos mais distantes lugares do país, permitindo uma intensa troca entre a modernidade e a tradição. O rádio ajudou a criar novas práticas culturais e de consumo por toda a sociedade brasileira.
MÚSICA – (Intérpretes e compositores)
O iê-iê-iê de Roberto Carlos e da Jovem Guarda ajudou a embalar a década de 60 no Brasil. Um período marcado também por inesquecíveis festivais da música popular brasileira, que fizeram despontar nomes como Elis Regina e Jair Rodrigues, Da bossa nova surgiram grandes compositores e intérpretes – Tom Jobim, Vinícius de Moraes, Nara Leão, Elis Regina, Elisete Cardoso, Johnny Alf, Carlos Lyra, Ronaldo Bôscoli, Roberto Menescal, Luiz Bonfá, Baden Powell, e tantos outros.
Em 1966, a gravação de um disco de Frank Sinatra, com as composições de Tom Jobim, popularizou ainda mais a bossa nova, já mundialmente conhecida com a gravação de Garota de Ipanema, de Tom e Vinícius, por cantores de renome em vários países.
Da influência do samba e da bossa nova – não propriamente dos ritmos, mas da sua brasilidade – surgiu na metade da década de 60 o Tropicalismo, movimento liderado pelos compositores Caetano Veloso (Alegria, Alegria) e Gilberto Gil (Domingo no Parque). Esta tendência musical misturava as manifestações da cultura popular, a arte de vanguarda e crítica social.
O Tropicalismo teve forte influência na estética de filmes, peças teatrais, artes plásticas e livros, mas se expressou integralmente através da música, atraindo seguidores de talento, tais como Tom Zé, Capinam, Maria Bethânia, Nara Leão, Gal Costa, Os Mutantes, Torquato Neto e os maestros Rogério Duprat e Júlio Medaglia.
A maioria destes artistas diversificou suas carreiras por diversos estilos musicais, enriquecendo ainda mais a MPB. Nomes famosos alcançaram grande sucesso no Brasil e no exterior sem terem passado por nenhum movimento musical específico, mas imprimindo às suas obras um pouco de cada tendência musical brasileira.
É o caso, por exemplo, de Chico Buarque de Hollanda, o intérprete dos acontecimentos políticos e sociais do país, o intimista Edu Lobo, que transitou pela bossa nova e ampliou seu trabalho ao universo da cultura popular, e Milton Nascimento, conhecido por seu refinamento musical.
Na música regional, o compositor Luiz Gonzaga, do Nordeste, influenciou toda uma geração de autores e intérpretes, incluindo o grupo tropicalista.
Festival Internacional da Canção
De 1966 a 1972 aconteceu no Rio de Janeiro, RJ, o Festival Internacional da Canção que aconteciam em duas fases: a nacional e a internacional cujo vencedor levava o Galo de Ouro
ESPORTES
A conquista da Copa do Mundo de 62, no Chile, complementou o clima de euforia que tomava conta do Brasil na primeira metade da década.
POLÍTICA
Nem mesmo o golpe militar de 1964 foi suficiente para abafar a efervescência cultural da época, marcada também pela contestação política. Mas os militares conseguiram impedir a manifestação mais legítima de cidadania: proibiram o voto direto para presidente da República e representantes de outros cargos majoritários, como governador, prefeito e senador. Apenas deputados federais, estaduais e vereadores eram escolhidos pelas urnas. O regime que destituiu o presidente João Goulart fechou emissoras de rádio e televisão, e a censura tornou-se prática comum.
BIPARTIDARISMO
Em 1968, o presidente Costa e Silva decretou o Ato Institucional número 5, o AI- 5, que deu plenos poderes ao governo. O Congresso foi fechado e diversos parlamentares tiveram seus direitos cassados. Partidos políticos foram extintos e o bipartidarismo foi adotado no País: foram criados a Arena, que reunia partidos do governo, e o MDB, que aglutinava as “oposições”.
TELEFONES
Nas décadas de 50 e 60 alguns acontecimentos marcaram o desenvolvimento das telecomunicações no mundo, mas o Brasil estava praticamente mudo com a estagnação do setor. Seu desenvolvimento foi retomado a partir do final da década de 60, após a regulamentação do Código Brasileiro de Telecomunicações, em 1963;
Em março de 1969 foi inaugurado o primeiro tronco sul de microondas da Embratel, interligando São Paulo, Curitiba e Porto Alegre; um ano depois foi inaugurado o sistema DDD (Discagem Direta à Distância). Em fevereiro de 72, além da inauguração da primeira transmissão de TV em cores no Brasil, também foram criados o Sistema Telebrás, e os primeiros telefones públicos foram instalados no Rio de Janeiro. Ainda nessa década, foi implantado o Sistema Brasileiro de Telecomunicações via Satélite (SBTS) e o sistema de cabos submarinos ligando o nosso país à Europa, aos Estados Unidos e à África.
OS HIPPIES
HIPPIE quer dizer JOVEM relaxado, com os cabelos longos, jovem rebelde dos anos 60 que aceita a liberdade sexual e o uso de drogas.
Para ser um hippie você deve acreditar na paz como a maneira resolver diferenças entre povos, ideologias e religiões. A maneira à paz é com o amor e a tolerância. Amar significa a aceitação de outra enquanto é, dar-lhe a liberdade para expressar-se e não os julgar baseados em aparências. Este é o núcleo da filosofia do hippie.
Assim ser um hippie não é uma matéria do vestido, do comportamento, do status econômico…É uma aproximação filosófica à vida que enfatiza a liberdade, a paz, o amor e um respeito para outro e à terra. A maneira do hippie nunca morreu.
Começaram a surgir jovens rebeldes delinquentes e desajustados, mas tinham um grande potencial criativo, e seus próprios ideais, o rock psicodélico, as drogas e as contradições dos antigos valores dados pela sociedade, marcaram esse período “mágico”.
CINEMA
Na década de 60, prevaleceu uma influência europeia, sobretudo do cinema francês e do italiano. O modo de produção também passou a ser mais próximo do europeu, uma vez que o modelo de Hollywood, mostrou-se inadequado. Hoje, observa-se que o sistema de produção adotado no cinema brasileiro, tem mais afinidades com o modelo europeu e norte-americano de cinema independente que trabalha numa escala industrial e numa proposta estética bem diferentes do modelo de Hollywood. Por isto, não seria adequado afirmar que é mais parecido com um ou com outro.
REVISTA EM QUADRINHOS
Já Ziraldo criou, em 1960, a primeira revista em quadrinhos brasileira feita por um só autor: a Turma do Pererê. Os personagens dessa revista eram um pequeno índio e vários animais que compõem o universo folclórico brasileiro, tais como a onça, o jabuti, o tatu, o coelho e a coruja. A Turma do Pererê marcou época na história dos quadrinhos no Brasil e está sendo reeditada pela editora Nova Didática.
TEATRO
Dos fins da década de 60 em diante, a Literatura Dramática brasileira, que até então contava com raríssimos nomes de autoras teatrais, passara por uma considerável transformação. Por razões tanto históricas como sociais e culturais, mulheres como Renata Pallottini, Hilda Hilst, Leilah Assunção, Isabel Câmara, Consuelo de Castro e outras voltam-se para o teatro acompanhada atentamente pela crítica e pelo público, ampliando e enriquecendo nossa produção dramatúrgica.
Abre-se assim um novo e importante espaço público para a atuação feminina no Brasil.
Fatos e Personagens da década de 60
Augusto Boal
Autor, diretor e teórico. Um dos importantes nomes do teatro brasileiro a partir da década de 60, ligado ao Teatro de Arena de São Paulo até os anos 70 e criador do teatro do oprimido, internacionalmente conhecida metodologia cênico-pedagógica
Caetano Veloso
Compositor, cantor e escritor. Um dos grandes artíficies da contracultura brasileira ao empregar o slogan ‘É proibido proibir’, espelhando-se no movimento que ocorria em Paris de 1968
Carlos Lyra
Compositor, cantor e instrumentista, grande influência na divulgação do violão como instrumento importante na bossa nova. Ligado ao CPC da UNE, que procurava questionar a herança cultural da música popular brasileira, começou a fazer contatos com outros compositores populares, resultando daí uma parceria com Zé Kéti no Samba da legalidade
Chico Buarque
A vida e algumas pérolas do cancioneiro Chico Buarque, que em determinados momentos teve que assinar como o Julinho da Adelaide para driblar a censura
CPC da UNES
O CPC da União Nacional do Estudantes foi um dos mais fecundos polos de agitação cultural do país antes do golpe. Produziu filmes, como “Cinco vezes favela”, assinado por Leon Hirzman, Marcos Farias, Cacá Diegues, Miguel Borges, Joaquim Pedro de Andrade, Eduardo Coutinho, Ruy Guerra e Nelson Pereira dos Santos; editou livros, como “Violão de rua”; montou shows pelo país; e gravou o disco “O povo canta”.
Elis Regina
Tornou-se conhecida nacionalmente em 1965, ao sagrar-se vencedora do I Festival de Música Popular Brasileira da TV Excelsior, defendendo a música “Arrastão”, de Edu Lobo e Vinicius de Moraes.
Geraldo Vandré
Autor da música “Prá não dizer que não falei das flores”, que chegou ao 2º lugar no Festival da TV Globo de 1968, perdendo para Sabiá (Chico Buarque/Tom Jobim), apesar de ser a preferida do público, que a cantou em uníssono no Maracanãzinho e virou hino contra a ditadura.
João das Neves
Diretor e autor. Durante doze anos cria espetáculos para o Grupo Opinião, um dos principais focos de resistência político-cultural das décadas de 60 e 70, onde escreve e monta O Último Carro, metáfora do Brasil em um trem desgovernado.
João do Vale
Em 1964 estreou como cantor no restaurante Zicartola, onde nasceu a ideia do show Opinião, dirigido por Oduvaldo Viana Filho, Paulo Pontes e Armando Costa, que foi apresentado no teatro do mesmo nome, no Rio de Janeiro
Maria Bethânia
Irmã do compositor e cantor Caetano Veloso, nasceu no dia 18 de Junho de 1946 em Santo Amaro da Purificação, na Bahia. Desde a infância gostava de cantar, imitando os artistas que ouvia no rádio e sabia que seu destino era o palco.
Nara Leão
Nara foi a primeira cantora branca da chamada zona sul, a fazer esse tipo de valorização dos sambistas esquecidos, os resgatando em disco. Nara foi aclamada e também perseguida por esse seu feito, o de se engajar na luta por justiça social, tendo como principal arma, sua música
Oduvaldo Vianna Filho
Compositor. Dramaturgo. Ator. Conhecido também pelo apelido de Vianinha. Filho do dramaturgo Oduvaldo Vianna e de Deuscélia Vianna. Ao lado de Gianfrancesco Guarnieri e Augusto Boal foi um dos principais nomes do Teatro de Arena e um dos fundadores do Grupo Opinião
Raul Seixas
Logo que Raul começa a compor, para dizer, em suas músicas, o que ele pensava. Uma das suas primeiras composições já teve problemas com a censura. “O Crivo”, que era uma gíria para cigarro, chegou aos ouvidos da censura como sendo o codinome de maconha.
Grupo Opinião
Grupo carioca que centraliza, nos anos 60, o teatro de protesto e de resistência, centro de estudos e difusão da dramaturgia nacional e popular
Zé Kétti
Foi no bar de Cartola que Oduvaldo Viana filho, Ferreira Gullar e Armando Costa, ambos conhecidos por Zé Kétti no Zicartola, tiveram a ideia de montar a peça Opinião. O nome da peça foi tirado de uma música do Zé Kétti de mesmo nome, gravado por Nara Leão, Elis Regina e Jair Rodrigues
SLOGANS
Foi nos Anos 60 que nasceu um novo modo de viver, sonhar e morrer, no qual o que importava era a revolução em beneficio do homem, em nome da liberdade. O novo homem devia estar de acordo com seus instintos. Buscava-se libertar o corpo e a alma de conceitos artificialmente instituídos pela indústria cultural e pela comunicação de massa, e entrar em sintonia com seus desejos.
O mundo sob os olhos dos profetas e grandes místicos falaram muito sobre isso, mas parecia algo longínquo e até mesmo impossível. Um dia, em abril de 1961 o irreal se tornou real; um homem, sozinho dentro de uma nave espacial, viveu a incrível experiencia de ver a Terra em todo o seu conjunto, redonda, inteira. “A Terra é azul”. Este homem era Yuri Gagarin. Em 1969 o homem finalmente pisa na Lua, anunciando a chegada de um novo tempo. O mundo deixou de ser abstrato e passou, realmente, a existir.
Entre os slogans grafitados pelos muros de Paris, podia-se ler: “Quando penso em revolução quero fazer amor”; “É proibido proibir” (titulo de uma musica do tropicalista Caetano Veloso); “A felicidade é o poder estudantil”;
1951 / 1965: Isto faz um bem
1966 / 1971: Tudo vai melhor com Coca-Cola
COSTUMES
• Estilo hippie
• Jeans e calças militares usadas com enormes bocas de sino, tachinhas, bordados e muitos brilhos
• Camurças com franjas;
• Estilo apache;
• Estilo safári;
• Colares de contas miçangas, bijuterias étnicas;
• Saias e calças de cintura baixa com cintos largos ou de penduricalhos;
• Estampas florais, Pucci e psicodélicos em quantidade;
• Roupas artesanais, materiais naturais e tinturas caseiras;
• Bolsas de crochê ou com franjas com alças a tiracolo;
• Botas de camurça e sandálias de plataforma;
• Saias longas, estampadas, estilo cigana e muita interferência de brilhos e plumas nas roupas, se acentuando no final da década de 60 em uma forte inspiração dos anos 1930 em todas as formas de arte.
GÍRIAS
A
Abafar: Arrasar, chegar e fazer com que todos os olhares se voltassem na sua direção. Daí a expressão “crente que está abafando”.
Aldeia global: Décadas antes de o conceito de globalização ganhar os corações e as mentes neoliberalistas dos anos 90, o filósofo da comunicação, Marshal MacLuhan, um dos papas da intelectualidade inserida no contexto do final dos anos 60, já criava a expressão para definir a tela de comunicação que começava a transformar o mundo.
B
Biruta: Doido. Maluco. A palavra foi imortalizada em Eu Não Tenho Namorado, cantada por Celly Campello, em que Tony Campello pergunta para a irmã: Você ficou biruta?
Bronca: Repreensão.
Bode em canoa: Pessoa receosa, desconfiada.
Broto legal: Garoto ou garota interessante.
C
Cadilac: Nome genérico dado aos carros luxuosos e possantes.
Clube do Bolinha: A expressão, inspirada no personagem da história em quadrinhos, designava festas fechadas para o público feminino.
Cachorrão: Pessoa amiga, boa praça, camarada.
D
Daqui, ó: Sempre acompanhado de um gesto, que segurava com as pontas dos dedos o lóbulo da orelha, significava algo muito bom, maravilhoso.
E
Estraçalhar: Sair-se bem numa apresentação. Fazer um bom programa. Arrebentar.
Estar com a bomba: Estar bem, estar por cima, estar famosa. Dizia-se: Fulana está com a bomba.
F
Ficar pra titia: Não casar.
Flertar: O mesmo que namorar.
Fundir a cuca: Perturbar, atrapalhar, deixar alguém sem entender absolutamente nada do que estava acontecendo.
G
Grampear: Guardar na memória alguma coisa ou alguém.
Gema: Preciosidade, coisa fina.
Goiabão: Bobão, otário, garoto que estava sempre por fora dos modismos.
Gata/o: Maneira carinhosa de chamar o broto. Aos poucos, transformou-se em adjetivo: ele/a era um/a gato/a. Ou seja, a/o garota/o era de abafar.
L
Ligado: Atento. Também era usado para definir pessoa que costumava usar tóxico.
Levar mala: Ter seu pedido de dança recusado por uma dama. Nos bailinhos dos anos 60, levar mala era uma grande humilhação que os rapazes temiam terrivelmente.
M
Máquina: Automóvel.
Maninha: Jeito gentil de chamar a amiga, sem a conotação sexual de gata. O seu uso denotava amizade, afeição, carinho.
P
Papo-firme: Garota ou garoto bom/boa de prosa. Ou ainda, pessoa interessante, desinibida, segura, cheia de suas próprias convicções.
Pé-de valsa: Bom (ou boa) dançarino/a.
Pão: Homem bonito, irresistível.
S
Sacar: Entender, perceber. A palavra também era usada no sentido de criar. Exemplo: Fulano sacou uma frase espetacular.
T
Trouxa: Pessoa boba, otária, ingênua, desinformada.
Tal: Quando alguém era o/a tal, ele/ela era simplesmente o máximo.
U
Unissex: Roupa que podia ser usada por ambos os sexos.
V
Volta ao mundo: Marca de camisa masculina, de náilon, que virou mania nos anos 60, usado por dez entre dez jovens da época.
MODA
Nos anos 60, pela primeira vez, a moda focalizou os jovens, ampliando a massa consumidora.
Aqueles foram os anos “do último grito da moda” – o início da escravidão de garotas com as novidades da moda. Corriam nas lojas todo mês para atualizar o look.
As saias eram mais curtas, diminuindo até o tamanho da “hot pants”, shortinho que virou mania na época.
Um dos hits daquela época foi o vestido tubinho com botas de cano longo (brancas na maioria das vezes). Houve também o surgimento da arte POP, filmes e peças revolucionários.
A louca coleção metálica de Paco Rabane levava à era espacial. Yves Saint Laurent, Paco Rabanne, Courréges, Pierre Cardin e a inglesa Mary Quant (que dividiu com o francês André Courrèges a criação da minisaia) souberam tirar proveito da moda jovem, tornando-se referência mundial.
O final da década de 60 representa uma época de muita incerteza, surgindo assim dois novos movimentos que afetaram a moda: a revitalização da volta à natureza e o impacto do movimento feminista.
Os anos 60, acima de tudo, viveram uma explosão de juventude em todos os aspectos.
Era a vez dos jovens, que influenciados pelas ideias de liberdade “On the Road” (título do livro do beatnik Jack Keurouac, de 1957) da chamada geração beat, começavam a se opor à sociedade de consumo vigente.
O movimento, que nos 50 vivia recluso em bares nos EUA, passou a caminhar pelas ruas nos anos 60 e influenciaria novas mudanças de comportamento jovem, como a contracultura e o pacifismo do final da década.
Conscientes desse novo mercado consumidor e de sua voracidade, as empresas criaram produtos específicos para os jovens que, pela primeira vez, tiveram sua própria moda, não mais derivada dos mais velhos.
Aliás, a moda era não seguir a moda, o que representava claramente um sinal de liberdade, o grande desejo da juventude da época.
Algumas personalidades de características diferentes, como as atrizes Jean Seberg, Natalie Wood, Anouk Aimée, modelos como Twiggy, Jean Shrimpton, Veruschka ou cantoras como Joan Baez, Marianne Faithfull e Françoise Hardy, acentuavam ainda mais os efeitos de uma nova atitude.
A alta-costura cada vez mais perdia terreno e, entre 1966 e 1967, o número de maisons inscritas na Câmara Sindical dos costureiros parisienses caiu de 39 para 17. Consciente dessa realidade, Saint Laurent saiu na frente e inaugurou uma nova estrutura com as butiques de prêt-à-porter de luxo, que se multiplicariam pelo mundo através das franquias.
Com isso, a confecção ganhava cada vez mais terreno e necessitava de criatividade para suprir o desejo por novidades. O importante passaria a ser o estilo e o costureiro passou a ser chamado de estilista.
Nessa época, Londres havia se tornado o centro das atenções, a viagem dos sonhos de qualquer jovem, a cidade da moda. Afinal, estavam lá, o grande fenômeno musical de todos os tempos, os Beatles, e as inglesinhas emancipadas, que circulavam pelas lojas excêntricas da Carnaby Street, que mais tarde foram para a famosa King’s Road e o bairro de Chelsea, sempre com muita música e atitude jovens.
A modelo Jean Shrimpton era a personificação das chamadas “chelsea girls”. Sua aparência era adolescente, sempre de minissaia, com seus cabelos longos com franja e olhos maquiados. Catherine Deneuve também encarnava o estilo das “chelsea girls”, assim como sua irmã, a também atriz Françoise Dorléac.
Por outro lado, Brigitte Bardot encarnava o estilo sexy, com cabelos compridos, soltos e rebeldes ou coque no alto da cabeça.
Entretanto, os anos 60 sempre serão lembrados pelo estilo da modelo e atriz Twiggy, muito magra, com seus cabelos curtíssimos e cílios inferiores pintados com delineador.
No Brasil, a Jovem Guarda fazia sucesso na televisão e ditava moda. Wanderléa de minissaia, Roberto Carlos, de roupas coloridas e, como na música, usava botinha sem meia e cabelo na testa (como os Beatles).
No final dos anos 60, de Londres, o reduto jovem mundial se transferiu para São Francisco (EUA), região portuária que recebia pessoas de todas as partes do mundo e também por isto, berço do movimento hippie, que pregava a paz e o amor, através do poder da flor (flower power),do negro (black power), do gay (gay power) e da liberação da mulher (women’s lib). Manifestações e palavras de ordem mobilizaram jovens em diversas partes do mundo.
A esse conjunto de manifestações que surgiram em diversos países deu-se o nome de contracultura. Uma busca por um outro tipo de vida, underground, à margem do sistema oficial. Faziam parte desse novo comportamento, cabelos longos, roupas coloridas, misticismo oriental, música e drogas. Os jovens vestiam jeans bordados de flores, pantalonas tipo “oxford” e saias longas e vaporosas até o chão.
Inicia o domínio de materiais mais sinuosos e suaves, tecidos para todos os tipos de roupas e peças coladas ao corpo, realçando a silhueta natural. Roupas de tecidos rústicos, saias de lã com batas, blusas grossas de tricô, botas amarradas, tudo no estilo bem camponês.
No Brasil, o grupo “Os Mutantes”, formado por Rita Lee e os irmãos Arnaldo e Sérgio Batista, seguiam o caminho da contracultura e afastavam-se da ostentação do vestuário da jovem guarda, em busca de uma viagem psicodélica.
A moda passou a ser as roupas antes reservadas às classes operárias e camponesas, como os jeans americanos, o básico da moda de rua. Nas butiques chiques, a moda étnica estava presente nos casacos afegãos, fulares indianos, túnicas floridas e uma série de acessórios da nova moda,tudo kitsch, retrô e pop. Toda a rebeldia dos anos 60 culminaram em 1968.
CINEMA
Cinema brasileiro dos anos 60 é revisto em livro
O livro As Grandes Personagens da História do Cinema Brasileiro, 1960/1969, reúne perfis de 71 pessoas fundamentais para o cinema nacional da época. Há desde diretores consagrados a técnicos quase anônimos que contribuíram para criar um cinema que marcou época
Rio de Janeiro – Nos anos 60, o cinema brasileiro ganhou o mundo e encontrou sua linguagem, seguindo o preceito de Glauber Rocha de que para realizar um filme só era preciso uma câmera na mão e uma ideia na cabeça. Para contar essa história, a editora Fraiha lança o livro As Grandes Personagens da História do Cinema Brasileiro, 1960/1969, com perfis de 71 pessoas que se destacaram nessa época. “O tom é de homenagem e não de análise do período, já muito estudado”, diz a editora Sílvia Fraiha. “Ampliamos nosso foco para técnicos e outros profissionais porque eles foram tão importantes quanto diretores e autores de cinema.”
As Grandes Personagens é o segundo volume de uma coleção que pretende cobrir os mais de cem anos de nosso cinema. O primeiro, lançado em 2000, ia de 1930 a 1959, quando estúdios como Atlântida, Vera Cruz e Cinédia criaram no País uma Hollywood tropical e levavam multidões às salas de exibição. “Pensamos em abordar as décadas de 60 e 70, mas chegamos a 200 nomes, o que tornava a obra inviável”, explica o autor do texto Eduardo Giffoni Flórido, um cinéfilo que diz ter passado boa parte da vida “de olhos grudados na tela”. “Fechamos nos anos 60, uma época rica em que se renovou a linguagem do cinema brasileiro.”
Em vez do texto frio de enciclopédia, Giffoni escreveu com sua memória afetiva, embora seja preciso em datas e fatos. “Além de informar, quis recorrer à memória afetiva e ao imaginário. Certos personagens de nosso cinema ainda estão vivos na nossa lembrança. Eu não consigo pensar em Leila Diniz ou Glauber como ausentes da nossa vida”, comenta Giffoni. Ele também não privilegiou nenhuma tendência da época. “Grosso modo, havia três correntes principais nos anos 60, o Cinema Novo, o marginal da Boca do Lixo e a nova comédia, representada por Costinha e outros cineastas. Todos foram importantes e influenciam até hoje.”
Além do texto, o livro traz preciosas fotos. Leila Diniz, por exemplo, aparece em sua melhor forma ilustrando seu verbete, enquanto Glauber Rocha, Zelito Vianna, Nelson Pereira dos Santos e Luiz Carlos Barreto, ainda jovens, ilustram o texto sobre o último. A foto da atriz Anecy Rocha (irmã de Glauber e mulher de Walter Lima Jr., já falecida) com um minivestido branco, faz sentir saudades do tempo em que ela era estrela e paixão do cinema nacional. Já profissionais como o fotógrafo Ozualdo Candeias, o crítico Paulo Emílio Salles ou o técnico de som Sílvio Renoldi têm seus rostos pouco conhecidos revelado ao público.
Há algumas ausências, como a de Nelson Pereira dos Santos, e a inclusão de outros nomes que começaram antes dos anos 60, como Roberto Farias. “Ele fez dois filmes nos anos 50, mas sua fase mais importante vem a partir de 1961, com O Pagador de Promessas, Selva Trágica e os três filmes do Roberto Carlos”, explica Giffoni. “Já o Nelson entrou no livro anterior porque Rio 40 Graus, de 1955, é um divisor de águas. Quisemos mostrar que, enquanto se fazia chanchada e se tentava um cinema hollywoodiano, já se preparava o Cinema Novo que aconteceria depois. No próximo livro devem entrar pessoas cuja carreira começa nos anos 60, mas se firma nos 70.”
Para obter os R$ 200 mil necessários para fazer os 3 mil exemplares do livro (que tem capa dura, papel cuchê e farta ilustração), a Frahia Editora recorreu à Lei Rouanet e à lei municipal de incentivo à cultura e foi patrocinada por Sesc-Rio, Eletronuclear e Thissen Krup. Também recorreu à venda adiantada de um terço da edição. “Por isso, só mil chegarão às livrarias e vão custar R$ 60 cada um”, afirma Sílvia.
Autoria: Messias Rocha Lira
Veja também: Década de 70 no Brasil