A proclamação da República (1910) e a Primeira Guerra Mundial (1914) provocaram mudanças na sociedade portuguesa. O Modernismo em Portugal iniciou-se nesse período em que o país estava em processo de compreensão de sua nova identidade.
Contexto histórico e social
Portugal, no início do século XX, assistiu a uma fase particularmente agitada de sua política: o descontentamento com o regime monárquico, retrógrado e anacrônico e o ufanismo republicano que visava a colocar o país em compasso com as grandes nações imperialistas europeias.
Em 1910, por quase quarenta anos de pressão, finalmente, proclamou-se a República. Os republicanos, por meio da economia imperialista, sustentaram o novo regime.
Ainda que não tenham ocorrido grandes mudanças sociais e econômicas, percebeu-se uma participação maior da intelectualidade no governo, o que difundiu mais intensamente a conscientização quanto à necessidade de modernização do país em todos os sentidos.
Nesse contexto, surgiram os autores que constituiriam as primeiras gerações do Modernismo português, com destaque para a geração Orpheu, liderada por Fernando Pessoa e Mário de Sá-Carneiro, entre outros. Lançaram a revista Orpheu, criando um grupo com o mesmo nome da revista.
Gerações modernistas
1ª geração – o Orfismo:
A primeira fase do modernismo em Portugal (Orpheu: 1915-1927) trouxe um ressaibo simbolista, realçado pela herança saudosista da revista Águia. A esse caráter juntou-se o desejo de renovação, de arejamento da arte, para torná-la mais ágil na linguagem, menos adjetivada, mais simples e até popular.
Pretendia-se, também, uma atitude mais conforme em relação aos novos tempos sociais do progresso, da máquina e da agitação do século XX. Nota-se, nesses postulados, uma nítida influência do Futurismo italiano, pois resume uma atitude de inconformismo.
Principais autores: Fernando Pessoa, Mário de Sá Carneiro e Almada Negreiros.
2ª geração – o Presencismo:
A segunda fase (Presença: 1927-1940) deu continuidade ao ideário da geração Orpheu.
O programa da Presença era vasto e buscava a consolidação das conquistas da primeira fase, por meio de preocupação com a própria arte, fazendo a “arte pela arte” ou “literatura artística”.
O programa estabeleceu, ainda, a ênfase individual, o intuitivo sobre o racional, a introspecção, o social, desvinculando a arte de qualquer compromisso religioso, econômico ou filosófico.
Principais autores: José Régio, João Gaspar Simões e Branquinho da Fonseca.
3ª geração – o Neorrealismo:
A terceira fase moderna em Portugal recebeu o nome de Neorrealismo e, sob certo ângulo, perdura até hoje.
Repudiando a metafísica e o psicologismo presencista, os autores da terceira geração do modernismo português destacam a miséria dos pobres em contraste com a opulência dos ricos, revelando as contradições da sociedade em crise, analisando a vida dos camponeses e do proletariado; em suma, abordando a problemática do desenvolvimento industrial dentro do Portugal eminentemente agrário.
Assumem uma postura antiburguesa, socialista, antitradicionalista e republicana. Daí a semelhança com os autores da chamada “Geração de 70” (realistas do século XIX, Eça de Queirós, Antero de Quental etc.) e o rótulo de neorrealistas. Antônio José Saraiva resume o programa neorrealista: “Uma visão mais completa e integrada dos homens, a consciência do dinamismo da realidade e a identificação do escritor das forças transformadoras do mundo”.
Transparecendo influência da literatura norte-americana (John Steinbeck, John dos Passos, Ernest Hemingway) e da literatura brasileira (Jorge Amado, Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Raquel de Queirós), o Neorrealismo apresentou, entre outros, os seguintes autores: Alves Redol, Manuel da Fonseca, Virgílio Ferreira, Fernando Namora, Ferreira de Castro.
Principais autores: Alves Redol, Ferreira de Castro e Jorge de Sena.