O texto poético se caracteriza por privilegiar o prazer estético da leitura. Os gregos chamavam de poiésis ao “ato de criar algo”. Portanto, a poesia pertence à ficção, pois trata-se de um processo criativo e de algo inventado.
A poesia
De modo geral, entende-se por poesia a emoção, o aspecto imaterial do texto. Assim, podemos encontrar poesia em poemas, canções, textos narrativos, peças publicitárias, pinturas e filmes, por exemplo.
A seguir são apresentados textos de caráter poético: o primeiro é uma manifestação em versos e o segundo, em prosa.
Eu faço versos como quem chora Fecha o meu livro, se por agora De desalento… de desencanto… Não tens motivo nenhum de pranto.
“Desencanto”, Manuel Bandeira.
Verdes mares bravios de minha terra natal, onde canta a jandaia nas frondes da carnaúba; Verdes mares, que brilhais como líquida esmeralda aos raios do sol nascente, perlongando as alvas praias ensombradas de coqueiros;
Serenai, verdes mares, e alisai docemente a vaga impetuosa, para que o barco aventureiro manso resvale à flor das águas.
Iracema, José de Alencar.
O poema
E muito comum o emprego das palavras “poesia” e “poema” como sinônimas. Porém poesia é algo imaterial e poema é um gênero textual com características de estrutura próprias.
No poema, há versos, métrica, estrofes, rimas e ritmo. E possível que não encontremos poesia em determinado poema, que ele não nos sensibilize, assim como é possível nos sentirmos emocionalmente tocados diante de um verso.
Estrutura do texto poético
Cada linha de um poema corresponde a um verso. O verso é a unidade poética:
Alma minha gentil que te partiste
Camões.
Estrofe é um agrupamento de versos:
Alma minha gentil que te partiste
Tão cedo desta vida, descontente,
Repousa lá no céu eternamente
E viva eu cá na Terra sempre triste.
Camões.
A repetição regular de um verso ou de uma estrofe, no poema, recebe a denominação de estribilho:
Ora, se deu que chegou
(isso já faz muito tempo)
No banguê dum avô
Uma negra bonitinha
Chamada negra Fuiô.
Essa negra Fulô
Essa negra Fulô
“Essa nega Fulô’ Jorge de Lima.
Alguns poemas apresentam formas fixas, ou seja, obedecem a um número exato de versos, de estrofes e de rimas. Dentre as principais formas fixas, temos:
- o acróstico, que é composto de uma só estrofe cujas letras iniciais formam o nome de uma pessoa ou de algo (um objeto, uma cidade, uma paisagem, por exemplo.);
- a balada, que é composta de quatro estrofes: três oitavas ou três décimas (oito ou dez versos) e uma quadra ou quintilha (quatro ou cinco versos);
- o haicai, poema de origem japonesa, composto por uma estrofe com três versos: o primeiro com cinco sílabas (redondilha menor) e o segundo com sete sílabas (redondilha maior);
- o soneto, forma composta por catorze versos divididos em dois quartetos e dois tercetos ou, ainda, por uma estrofe com doze versos e outra com dois versos;
- a trova, que é composta de uma estrofe de quatro versos com sete sílabas poéticas (redondilha maior).
A métrica ou medida é representada pelo número de sílabas de um verso. Essa estrutura em sílabas permite ao leitor identificar o ritmo do poema:
As sílabas poéticas ou métricas não são contadas como as sílabas gramaticais. A contagem de sílabas poéticas respeita o ritmo do poema, é feita auditivamente e vai apenas até a última sílaba tônica do verso.
Dividir um verso em sílabas poéticas é chamado de escandir. A escansão deve seguir determinadas regras, tais como:
- Os ditongos crescentes formam apenas uma sílaba.
- Duas vogais podem formar apenas uma sílaba quando uma delas se encontra no final de uma palavra, e a outra, no início da palavra seguinte.
Entre os versos mais empregados nos poemas estão:
- Pentassílabos ou redondilha menor: compostos de cinco sílabas.
- Heptassílabos ou redondilha maior: compostos de sete sílabas.
- Decassílabos ou heroicos: compostos de dez sílabas.
- Dodecassílabos ou alexandrinos: compostos de doze sílabas.
O ritmo, responsável pela estrutura melódica do texto poético, é marcado pela sucessão de sílabas átonas e tônicas dentro do verso ou do poema:
Acho que a chuva ajuda a gente a se ver
“Samba, suor e cerveja”, Caetano Veloso.
A cavalo de galope
a cavalo de galope
a cavalo de galope
lá vem a morte chegando.
“Morte a cavalo”, Carlos Drummond de Andrade.
No primeiro texto, Caetano reproduz o som da chuva; no segundo, Drummond reproduz o galopar do cavalo. Os dois exemplos mostram como a exploração da sonoridade das palavras e das suas tonicidades colabora para a configuração do ritmo no texto poético.
Rima
A rima é o resultado de sons iguais ou semelhantes entre as palavras, no meio ou no final de versos diferentes. Há vários tipos de rima:
Quanto à posição na estrofe:
a) Cruzada ou alternada: (ABAB) O primeiro verso rima com o terceiro, e o segundo com o quarto:
“Cheguei, chegaste. Vinhas fatigada A
E triste, e triste e fatigado eu vinha; B
Tinhas a alma de sonhos povoada A
E a alma de sonhos povoada eu tinha.” B
b) Interpolada: (ABBA) O primeiro verso rima com o quarto, e o segundo com o terceiro:
“Para canto de amor tenros cuidados. A
Tomo entre voz, ó montes, o instrumento; B
Ouvi pois o meu fúnebre lamento; B
Se é que compaixão dos animados.” A
c) Emparelhada: (AABB) O primeiro verso rima com o segundo, e o terceiro com o quarto:
“Manhã de junho ardente. Uma encosta escavada A
seca, deserta e nua, à beira de uma estrada A
Terra ingrata, onde a urze a custo desabrocha B
bebendo o sol, comendo o pé, mordendo a rocha.” B
(Guerra Junqueiro)
d) Internas: Quando rimam palavras que estão no fim do verso e no interior do verso seguinte:
“Salve Bandeira do Brasil querida
Toda tecida de esperança e luz
Pálio sagrado sobre o qual palpita
A alma bendita do país da Cruz.”
e) Misturadas: Não tem esquema fixo.
f) Versos brancos ou soltos: São os que não tem rima.
Quanto à tonicidade
a) Agudas: Quando rimam palavras oxítonas ou monossilábicas: a/mor e com/por; a/mém e Be/lém.
b) Graves: Quando rimam palavras paroxítonas: an/ta e man/ta; qui/os/que e bos/que.
c) Esdrúxulas: Quando rimam palavras proparoxítonas: má/gi/co e trá/gi/co; li/ri/co e o/ní/ri/co.
Quanto à sonoridade
a) Perfeitas: Há uma perfeita identidade dos sons finais: festa e manifesta; cedo e medo.
b) Imperfeitas: Quando não há uma perfeita identidade dos sons finais: céu e breu; sais e paz.
c) Consoantes: Quando há os mesmos sons a partir da última tônica: perto e incerto; dezenas e apenas.
d) Toantes: Quando só há identidade com a vogal tônica do verso: terra e pedra; vela e terra.
Quanto ao valor
a) Pobres: Quando rimam palavras da mesma classe gramatical: amor e flor; meu e teu.
b) Ricas: Quando rimam palavras de classes gramaticais diferentes: festa e manifesta; cedo e medo.
c) Raras: Quando rimam palavras de difícil combinação melódica: cisne e tisne; leque e Utreque.
d) Preciosas: São rimas artificiais, decorrentes da combinação de um nome com a forma verbo-pronome: tranquilo e ouvi-lo; estrela e vê-la.
Disposição das estrofes
Quanto ao número de versos agrupados, as estrofes recebem diferentes denominações:
A estrofe de oito versos, quando possuir o esquema rítmico (ABABABCC) será denominada oitava-rima ou oitava heroica.
Quando ao metro dos versos, as estrofes podem ser:
- Simples: Quando agrupam versos de um mesmo metro.
- Compostas: Quando agrupam versos de metros diferentes.
- Polimétricas (livres): Quando agrupam versos de diferentes medidas sem obediência a qualquer regra.
Por: Paulo Roberto Vieira Corrêa