Biografia
Immanuel Kant nasceu em Königsberg, no ano de 1724. Königsberg, então, era uma cidade da Prússia Oriental que, a partir de 1871, integrou o Império Alemão. Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), essa região foi dominada pela União Soviética e atualmente pertence à Rússia.
Kant viveu solteiro e passou a maior parte de sua vida em sua cidade natal, onde se formou em filosofia e foi professor e reitor. Mantinha hábitos interessantes, como o de passear sempre no mesmo horário, a ponto de as pessoas acertarem seus relógios a partir de seus passeios.
Kant foi o primeiro filósofo a ser professor universitário, condição criticada por outros filósofos alemães como Schopenhauer – este argumentava que o filósofo perdia sua autonomia de pensamento quando se vinculava a uma instituição como a universidade.
Entre as obras mais importantes de Kant, destacam-se Crítica da razão pura, Princípios fundamentais da metafísica dos costumes, Crítica da razão prática e Crítica do juízo.
A filosofia de Kant
Não seria exagero afirmar que a importância de Kant para a filosofia universal é semelhante à de Platão. Sua filosofia tem como característica duas fases: a pré-crítica (1755-1780) e a crítica (1781-1800). Na fase pré-crítica, é marcante sua afinidade com o pensamento metafísico e racionalista predominante na pré-Alemanha. Mas, após a leitura de Hume, Kant “despertou de seu sono dogmático”, iniciando a fase crítica de sua obra. Por isso, a filosofia kantiana é conhecida como criticismo.
Kant pretendeu superar a discussão entre racionalistas e empiristas, redefinindo os limites entre fé e razão. Também propôs as bases para a constituição da moral, como veremos mais adiante. Poderíamos resumir a filosofia kantiana em quatro questões básicas:
- Como se pode conhecer?
- Como agir?
- O que esperar?
- O que é o homem?
A primeira questão é respondida por Kant de uma forma tão revolucionária quanto foi a representação de Nicolau Copérnico (1473-1543) para a astronomia e para o Renascimento Científico em geral.
Enquanto Copérnico colocou o Sol no centro do universo (teoria heliocêntrica), em oposição aos gregos e aos medievais que afirmavam ser a Terra o centro do universo, enquanto o Sol se movimentava em torno dela – teoria geocêntrica – Kant colocou a razão no centro de suas análises, partindo do pressuposto de que era necessário perceber o que ela é, o que ela pode ou não conhecer, quais são os seus limites, quais são as suas relações com a experiência, e assim por diante. Não se trata de conhecer o mundo e as coisas que existem nele, seja por meio da razão, seja por meio da experiência: trata-se, primeiro, de conhecer a própria razão.
Em Kant, a dualidade “racionalismo-empirismo” é superada por uma harmonia entre os sentidos e a razão, a fim de que possamos conhecer melhor nós mesmos e o mundo. Ele afirma que não somos capazes de conhecer inteiramente os objetivos reais e que o nosso conhecimento sobre esses objetos reais é fruto do que somos capazes de pensar sobre eles. Nosso conhecimento é limitado pelas noções de espaço e de tempo inerentes à nossa razão e às quais estamos presos.
E há determinadas coisas que os seres humanos não podem conhecer de fato, no sentido filosófico. Um exemplo disso é Deus. Ao contrário de Descartes, que afirmava a existência de Deus por meio da razão, Kant afirma ser impossível essa afirmação, uma vez que a concepção de Deus está fora dos limites racionais.
Mas Kant não nega e existência de Deus (aliás, ele era bastante religioso). Sua preocupação é demonstrar que essa não deve ser uma preocupação da filosofia, já que esta deve limitar-se ao que realmente possa ser conhecido por meio de uma combinação da razão com os sentidos.
A filosofia kantiana acaba sendo uma terceira via, enquanto resultado de uma síntese entre o racionalismo cartesiano e o empirismo britânico, sobretudo o de Hume.
Para Kant, o “ser em si” não existe, ou seja, não existe um mundo independente do sujeito. O objeto a ser conhecido só existe em função de um sujeito que o conhece. Voltando à comparação feita por vários autores entre Copérnico e Kant, enquanto o primeiro eliminou a crença do homem de que a Terra era o centro do universo, deixando o homem reduzido diante da imensidão universal, o segundo libertou o homem do universo ao qual se encontrava preso e deu a esse mesmo homem uma nova direção: o próprio homem. Assim, deu início também a uma nova concepção de metafísica.
Por: Wilson Teixeira Moutinho