Impulsionados por motivos diversos, como a fome, a conquista territorial, a fuga a perseguições políticas e religiosas, as crises econômicas, entre outros, os movimentos migratórios têm se realizado ao longo da história de forma contínua.
Cada época marca seu motivo. A verdade é que os movimentos de população permitiram o povoamento do mundo e significaram a expansão de etnias, línguas, religiões e conhecimento, num emaranhado processo que dá ao mundo atual os traços de grande diversidade e riqueza cultural que observamos.
As chamadas Grandes Navegações ou “grandes invasões”, por exemplo, foram responsáveis pela colonização do continente americano a partir do século XVI; e significaram a difusão da cultura dos europeus, a qual entrou em choque com as culturas das comunidades indígenas que já habitavam o território.
Esse deslocamento populacional foi estimulado pelo expansionismo territorial das potências europeias da época, que buscavam fontes de matérias-primas e novos mercados para seus produtos, portanto, tinha motivação geopolítica e econômica. Essa migração aumentou maciçamente no século XIX e começo do XX.
Paralelamente, perseguições políticas e religiosas, guerras e crises econômicas foram responsáveis por grandes deslocamentos humanos da Europa e Ásia para as Américas. Outras partes do mundo sofreram estimulação migratória mais localizada, como é o caso da Austrália e Nova Zelândia, onde a perspectiva de melhoria de condições de vida, com a possibilidade de mobilidade social (ascensão econômica), incentivou especialmente parte da população da Grã-Bretanha a emigrar.
Causas das migrações atuais
Os movimentos migratórios atuais relacionam-se, principalmente, a duas causas:
• A busca por melhores condições de vida – caracteriza os deslocamentos populacionais provocados pela miséria que se concentra em algumas partes do mundo. Portanto, têm caráter econômico, constituindo fluxos ou correntes migratórias de países pobres para países ricos. Exemplos: pós-década de 60 (século XX), da Europa Mediterrânea para a Europa Ocidental; na atualidade, do norte da África para países europeus, de regiões da América Latina para os EUA e Canadá, do extremo oriente para as Américas. Essas migrações são vistas como o efeito colateral mais perverso da globalização.
• A fuga de regiões em conflito – trata-se de migrações provocadas por guerras locais, portanto, têm motivação político-bélica, constituindo um verdadeiro êxodo para os países que recebem os refugiados. Esses deslocamentos ocorrem por uma questão de sobrevivência às perseguições motivadas por conflitos étnicos e às atrocidades cometidas contra as populações civis. Os exemplos mais recentes foram os que ocorreram na Bósnia-Herzegovina e Kosovo.
• Mas é no continente africano que se desencadeia a maior quantidade de movimentos migratórios: são legiões de refugiados vagando pelo espaço local, à procura de abrigo, fugindo de guerras tribais, instabilidades políticas, questões raciais e religiosas e golpes militares.
Áreas de repulsão e atração
Hoje, no mundo, podemos identificar algumas áreas com características de repulsão (países emissores) e de atração (países receptores) no espaço terrestre, que levam milhares de pessoas a se deslocar.
Como áreas de repulsão, podemos identificar:
a) América Latina (México, América Central e América do Sul) – com seus históricos problemas de desequilíbrio econômico, provocados por endividamentos e mau gerenciamento do dinheiro público, gerando enormes bolsões de pobreza.
b) África – onde, além da pobreza crônica da população, ocorrem conflitos raciais de extrema violência dentro dos países artificialmente criados pelos colonizadores europeus.
c) Ásia – o continente que concentra o maior contingente absoluto de pobres do mundo onde as estruturas sociais são profundamente injustas, muitas vezes exacerbadas pelos sistemas de castas e pelo comportamento religioso.
d) Leste Europeu – onde o fim do socialismo gerou enorme desorganização econômica, com a eliminação de empregos e benefícios estatais, expondo diferenças antes controladas pela ideologia política comum, provocando conflitos étnicos e religiosos.
O desenvolvimento do capitalismo internacional concentrou, particularmente, a riqueza em algumas regiões do globo, atraindo as populações empobrecidas que têm grande desejo de participar dos benefícios decorrentes desse poder.
Como exemplos dessas áreas de atração, podemos identificar:
a) América Anglo-Saxônica – os EUA e, em menor escala, o Canadá, com suas ricas economias, são atrativos para as populações latino-americanas, principalmente mexicanos e centro-americanos que veem na poderosa nação (EUA) a solução para seus problemas. Veja mais em Imigração Ilegal ao EUA.
b) Europa Ocidental – essa região concentra as principais economias do continente: Alemanha, França, Itália e Reino Unido, além da Holanda, Suécia e Suíça. A Europa é circundada por várias regiões com economias problemáticas, como a África, Oriente Médio, Europa Oriental e, mais distante, o Sul e Sudeste Asiático.
Quando, nos anos 60 (século XX), os países acima citados começaram a apresentar um desenvolvimento mais acelerado, libertando-se dos problemas gerados pela Segunda Guerra Mundial, teve início a imigração. Em princípio, ela ocorreu na própria Europa (migração intracontinental), dos países mais pobres, como Portugal, Irlanda, Grécia, Espanha, e Turquia em direção aos países centrais. Mais tarde, também começaram a chegar os imigrantes de outros continentes (migração intercontinental’), os quais eram bem-vindos à medida que forneciam mão-de-obra barata, substituindo os trabalhadores locais em serviços geralmente braçais.O mais típico exemplo foram os turcos migrando principalmente para a então Alemanha Ocidental.
Entretanto, as crises econômicas e as transformações na estrutura de trabalho, com a automação, reduziram os empregos. Surgiram, então, as sombras da xenofobia. A situação ficou pior com o fim do sistema socialista e o surgimento de grupos europeus orientais desempregados e empobrecidos. A partir daí, o imigrante estrangeiro passou a ser visto como um intruso ou concorrente indesejado, levando muitos países a adotar medidas restritivas.
c) Japão – relativamente recentes nos processos migratórios, os países começaram a se tornar um polo de atração a partir de seu acelerado crescimento econômico dos anos 70. Inicialmente os imigrantes provinham das cercanias de China, Taiwan e Coreia do Sul. O envelhecimento precoce da população, entretanto, serviu de maior atrativo, levando a um aumento da imigração, com destaque para o brasileiro, (dekassegui), trabalhador não-qualificado, aproveitado para as tarefas braçais. Milhares de famílias brasileiras mudaram para o Japão em busca de dólares.
Por: Renan Bardine
Veja também:
- Migrações Internacionais
- Correntes Migratórias para o Brasil
- Imigração Ilegal ao EUA
- Migrações Internas no Brasil
- Êxodo Rural