História

História do Capitalismo

A economia de mercado capitalista nasce de fato no século XVI, com as Grandes Navegações e a formação de um mercado mundial, e constrói uma nova estrutura produtiva que rompe com a estrutura econômica anterior da produção para subsistência e da economia de mercado local/doméstica.

Essa expansão territorial e econômica das relações capitalistas pelo mundo é a gênese do processo de globalização.

Na Europa, a transição do feudalismo para o capitalismo ocorreu de maneira rápida na porção ocidental, em especial no Reino Unido, nação que atingiu a etapa seguinte – industrial – de maneira pioneira em nível global.

Uma característica importante do modo de produção capitalista é a sua evolução constante, adaptando-se a situações e criando dinâmicas. Esse desenvolvimento, que resulta em novas etapas, gera novas características e novas formas de acumulação de capital, elemento fundamental em sua dinâmica histórica.

A história do capitalismo comercial

A etapa capitalista comercial pode ser situada entre os fins do século XV e o último quarto do século XVIII. Esse período foi marcado pelas Grandes Navegações – expansão marítima comercial – quando Portugal e Espanha quiseram romper o controle italiano das rotas comerciais do Oriente, via Mediterrâneo.

História comercial do capitalismo.
O capitalismo comercial baseou-se no acúmulo de metais preciosos.

A etapa capitalista foi assim denominada porque a acumulação de capitais dava-se primordialmente na esfera da circulação de mercadorias. As principais economias europeias eram determinadas pelo mercantilismo, que, em linhas gerais, estimulava a intervenção governamental na economia, com o intuito de promover a prosperidade e, consequentemente, ampliar o poder estatal.

Dessa forma, argumentava-se a favor da necessidade de acumulação de riquezas no interior do Estado, calcada no acúmulo de metais preciosos, princípio denominado metalismo.

Além do metalismo, outra forma de acumular riquezas era baseada nos esforços de se manter uma balança comercial favorável, ou seja, efetuar mais exportações do que importações. Assim, cabia ao Estado apoiar a Expansão Marítima e, por tabela, o colonialismo, gerador de alta lucratividade.

O modelo mercantilista foi muito importante para o desenvolvimento do modo de produção capitalista, pois facilitou a acumulação primitiva de capital (conceito de Karl Marx) sob o controle da burguesia europeia, assentada no trinômio: comércio altamente lucrativo, exploração colonial e pirataria.

A referida acumulação primitiva, associada a outros elementos que veremos a seguir, forneceu as condições que desembocaram na evolução do capitalismo à sua etapa posterior, isto é, sua etapa industrial.

A história do capitalismo industrial

A etapa industrial do capitalismo marca a ocorrência de profundas alterações na ordem econômica, social, política e cultural. As principais alterações amalgamaram-se na Revolução Industrial, também denominada Primeira Revolução Industrial, ocorrida no Reino Unido a partir da segunda metade do século XVIII.

Uma das transformações mais significativas da Revolução Industrial foi a multiplicação das possibilidades de exploração dos recursos naturais, potencializados pela disseminação das máquinas a vapor, alimentadas pela queima do carvão mineral. As locomotivas, com a expansão das ferrovias, possibilitaram a um número crescente de pessoas tornarem-se consumidoras, o que acentuou os lucros dos detentores dos meios de produção.

Nessa etapa, o comércio não é mais a base da acumulação de capital. O lucro consubstanciava-se na produção da mercadoria, por meio da apropriação do trabalho excedente não pago ao trabalhador e retido nas mãos do proprietário dos meios de produção. Em tese, o trabalhador recebe o necessário para a sua subsistência e o restante é apropriado pelo dono da unidade produtiva. Karl Marx denominou essa forma de apropriação da riqueza de mais-valia.

História industrial do capitalismo.
A utilização do trabalho infantil (além do feminino) potencializava ainda mais a extração de mais-valia, em função de salários ainda mais baixos que os pagos aos homens adultos.

A partir de meados do século XIX, o aumento da produção industrial gerou a necessidade de obtenção de mais matérias-primas, fontes de energia, de mão de obra e de mercados. Com isso, novas áreas do espaço mundial iniciam sua industrialização, com destaque para Bélgica, França, Alemanha, Itália, Estados Unidos e, em menor escala, Japão.

Se, na etapa comercial (mercantilismo), o Estado absolutista, atuava na mesma linha dos interesses da burguesia comercial, na etapa industrial, o Estado era visto como obstáculo à atuação da burguesia industrial.

Nesse contexto, a intervenção do Estado no mercado era indesejável, pois poderia frear a livre concorrência. Assim, a doutrina econômica que se alinhava aos interesses da burguesia industrial era o liberalismo, disseminado por economistas oriundos da “fábrica do mundo” – Inglaterra – como Adam Smith e David Ricardo. O livro A riqueza das nações, de Adam Smith, é considerado o precursor das ideias liberais.

Segunda revolução industrial

No interior das unidades fabris, as mudanças não cessavam. A capacidade produtiva e a sua velocidade eram constantemente aumentadas. Na segunda metade do século XIX, iniciou-se a Segunda Revolução Industrial.

Nesse momento, novas tecnologias e novas fontes de energia ganham espaço, em especial na Alemanha e nos Estados Unidos.

As indústrias siderúrgicas e mecânicas avançaram rapidamente, em razão do aperfeiçoamento da produção do aço. A descoberta de novos materiais e elementos causou impulso significativo na indústria química.

A eletricidade beneficiou as novas indústrias e a sociedade em geral, melhorando a qualidade de vida da população. O advento do motor de combustão interna e a consequente adoção de combustíveis derivados de petróleo dinamizaram os transportes e possibilitaram a criação da indústria automobilística.

A expansão da produção tornou necessária a busca por novos mercados consumidores, além de novas áreas fornecedoras de matérias-primas e disponíveis para investimentos.

Nesse quadro, tem curso a expansão imperialista no continente africano e no continente asiático. Nos anos de 1884 e 1885, as principais potências europeias organizam a “partilha” da África de acordo com seus interesses, durante a Conferência de Berlim.

A divisão imperialista das potências industriais consolidou a Divisão Internacional do Trabalho, em que as áreas coloniais especializavam-se como abastecedoras de matérias-primas baratas para as áreas industrializadas ou em industrialização. O que fora “sugerido” na etapa comercial estabelece-se claramente na fase industrial.

Dessa maneira, a etapa industrial do capitalismo caminha até a primeira metade do século XX assentada em avanços tecnológicos e desmedida instabilidade em termos geopolíticos e econômicos, com o acontecimento das duas grandes Guerras Mundiais, da Revolução Russa, da Crise de 1929 e do início do nazifascismo. Nesse período, foram dados outros contornos ao capitalismo, que se consubstanciaram numa nova etapa, a financeira.

A história do capitalismo financeiro

Uma das mais importantes consequências do aparecimento de gigantes da economia capitalista foi a concentração de capitais.

História financeira do capitalismo.Em diversos setores econômicos – indústrias, corretoras de valores, casas de comércio, bancos, entre outros –, surgiram várias empresas que se tornaram grandes. O recrudescimento do processo concorrencial entre elas estimulou fusões entre grupos empresariais, fato que, em especial nos últimos anos do século XIX, deu origem à formação de oligopólios e monopólios em setores econômicos.

Esse processo resultou em nova fase do capitalismo, a etapa financeira e monopolista. É de praxe associá-la com a expansão do período imperialista, em geral marcado entre 1875 e 1914, embora tenha se consolidado após o término da Primeira Guerra Mundial, quando algumas empresas se tornaram influentes e poderosas em escala global, devido ao processo de internacionalização do capital.

Com a concentração de capitais em setores importantes da economia, em particular nos Estados Unidos, surgiu um significativo mercado de capitais, constituído com a venda de ações de empresas em bolsas de valores. Isso contribuiu para a gênese das grandes corporações atuais, cujas ações estão disseminadas em um número imenso de acionistas.

Essas gigantescas corporações podem estar sob o controle de uma pessoa (acionista majoritário), uma família, uma empresa ou serem administradas por uma holding.

O liberalismo

O liberalismo como doutrina econômica pregava o Estado mínimo, funcionando como elemento de manutenção das leis naturais do mercado, preservando a livre concorrência.

Na prática, não era assim. Com a formação dos conglomerados, o mercado mostrou-se cada vez mais oligopolizado, substituindo elementos fundamentais da doutrina liberal, como o livre mercado e a livre concorrência.

A quebradeira em 1929 escancara as incongruências da teoria liberal. O excesso de produção agrícola e industrial provocou a crise, em grande parte, pois os baixos salários pagos à época vetavam a expansão do mercado consumidor interno nos Estados Unidos (EUA) e mais: a recuperação da indústria europeia pós-Primeira Guerra reduzia a necessidade de importação dos EUA, além do elevado grau de especulação com ações nas bolsas de valores, em especial na de Nova York.

Com os resultados desastrosos derivados da adoção das ideias liberais (desemprego e falências, principalmente), foi necessária uma atuação incisiva do Estado na economia. O maior exemplo foi a adoção do New Deal (1933), nos EUA, sob o governo de Franklin Roosevelt, calcado num audacioso projeto de inúmeras obras públicas pelo país, com o intuito de gerar postos de trabalho, o que se mostrou essencial para a recuperação econômica do país.

O principal teórico da intervenção do Estado em uma eco­nomia altamente oligopolizada foi o economista inglês John Maynard Keynes (1883-1946). Sua doutrina foi denominada keynesianismo.

Com a monopolização do capital em diversos setores econômicos – elétrico, têxtil, siderúrgico, naval, petrolífero, ferroviário, entre outros (poucos grupos) –, acelerou-se o processo de formação dos trustes no controle das diversas etapas do processo produtivo, desde a extração da matéria-prima, passando pela etapa da transformação, até a distribuição das mercadorias.

Associado a esse processo, ocorre um aspecto, em muitas situações, altamente nocivo ao consumidor: a formação de cartéis, oriundos da inviabilização da livre concorrência, desde o momento em que os trustes fazem acordos para o estabelecimento de preços comuns.

A Terceira Revolução Industrial ou Informacional

Vale recordar que, para Schumpeter, o capitalismo é um processo de destruição criativa. Os efeitos da Revolução Informacional tornaram-se mais visíveis a partir da década de 1990, com a expansão da rede mundial de computadores (Internet), mas as mudanças e avanços nos sistemas produtivos iniciaram-se muito antes. Desde a década de 1970, o mundo assiste à aceleração da Terceira Revolução Industrial ou Informacional.

As máquinas programáveis, a robótica, inovações como o aparelho de fax, entre outras, permitiram uma mudança completa nos processos produtivos e gerenciais, tornando a produção mais flexível. As inovações possibilitaram mais rapidez na circulação de informações, acelerando a velocidade dos meios de transporte, diminuindo o tempo de deslocamento de pessoas e mercadorias em um ritmo inimaginável poucas décadas antes.

Com esses processos, as transnacionais puderam flexibilizar geograficamente sua produção, acentuando seus lucros (obtenção de mão de obra mais barata, isenções fiscais, entre outros), com acesso a mercados cada vez mais distantes, embora, em linhas gerais, os lucros continuassem a ser remetidos às suas sedes nos países centrais (Norte rico).

Por: Wilson Teixeira Moutinho

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