Arcadismo é o nome do movimento que resgatou as formas artísticas da Antiguidade clássica. Particularmente, esse movimento compreendeu a produção literária brasileira na segunda metade do século XVIII.
O termo arcadismo deriva de Arcádia, região da antiga Grécia, habitada por pastores e que se tornou uma referência mítica, um sinônimo de uma vida tranquila e harmoniosa, um lugar em que o homem vivia em paz com seus semelhantes e com a natureza.
Contexto histórico
Essa foi uma época de grandes avanços na filosofia e na ciência, com o surgimento de nomes como os de Isaac Newton, Descartes e Voltaire. Todos eles assumiram a postura racional e experimental característica do Iluminismo. A produção cultural da época, inclusive a literatura, é também marcada pela valorização do conhecimento.
O Iluminismo foi um movimento ideológico que cultuou a razão e as ciências, valorizando o progresso técnico, marcado pelo anticlericalismo e pela crítica ao pensamento religioso. Por meio dele, foi lançada a semente da revolução burguesa e do liberalismo.
A origem do Arcadismo é italiana. Em 1690, surgiu, em Roma, a primeira Arcádia, que daria origem às arcádias portuguesas (Academia Lusitana, 1756) e brasileiras (o Arcadismo no Brasil tem início em 1768, com a publicação de Obras poéticas – de Cláudio Manuel da Costa).
As principais características do Arcadismo
Simplicidade da linguagem: a linguagem deve ser simples, direta e objetiva, sem jamais perder o rigor da correção e do bom gosto;
Poesia bucólica: a poesia deve valorizar o campo, a simplicidade da vida rural, em oposição à vida urbana. “O homem nasce puro e bom, a sociedade o corrompe.” Essa máxima de Rousseau norteia o espírito dos poetas árcades.
De um modo geral, o Arcadismo impôs regras rigorosas para a criação poética, o que acabou por acarretar certo prejuízo à estética. O escritor, fiel às regras, devia expressar-se em estilo simples, usar nomes de pastores e nomes consagrados pela literatura clássica. Daí encontrarmos, tanto em poetas brasileiros como em portugueses e italianos, nomes das amadas como Marília, Glaura, Glauce, Nise, entre outros.
Sempre teremos o campo como cenário, não o campo real, mas o campo da Arcádia, o que faz com que os poemas de diversos autores em lugares diversos – como Tomás Antônio Gonzaga, no Brasil, Bocage, em Portugal, e Giovanni Meli, na Itália – tenham características muito próximas.
Como o Arcadismo retoma alguns princípios da arte clássica da Antiguidade e do Renascimento, alguns de seus lugares mais comuns na literatura são designados por expressões da língua latina.
- Inutilia truncat significa, literalmente, cortar, podar o inútil, isto é, tirar do verso e da frase qualquer vestígio das complexidades do estilo barroco.
- Fugere urbem significa fugir da cidade, isto é, deve-se deixar a cidade e ir para o campo, lugar ameno e ideal para a vida feliz, chamado, por isso, de locus amoenus – lugar ameno, suave.
- Carpe diem significa colhe o dia, isto é, deve-se aproveitar a vida enquanto se é jovem e saudável, porque tudo passa rapidamente sobre a terra.
- Aurea mediocritas significa a mediocridade dourada, isto é, o equilíbrio ideal. A razão deve controlar as emoções humanas e proporcionar ao homem o equilíbrio necessário para que ele saiba passar pela vida sem grandes desassossegos.
Arcadismo em Portugal
A forte presença da Igreja Católica em Portugal não fez deste país um lugar fértil para os ideais do Iluminismo e do Arcadismo. A educação estava concentrada nas mãos dos jesuítas, o que dificultava a entrada, no país, das ideias iluministas que se faziam presentes em outras nações europeias. A marca desse atraso pode ser constatada no ano da fundação da Academia Lusitana – 1756 –, que constitui o marco inicial do movimento árcade.
Em primeiro de novembro de 1755, a cidade de Lisboa foi arrasada por um terrível terremoto: nove mil prédios foram destruídos e cerca de quarenta mil pessoas morreram. Foi a maior catástrofe natural desde a destruição de Pompeia na Antiguidade. Sebastião José de Carvalho e Mello, o Marquês de Pombal, teve como missão reconstruir e modernizar a cidade.
Para isto, Marquês de Pombal usou o ouro do Brasil, tornou-se um forte chefe de Estado e perseguiu os jesuítas, livrando a educação do ensino religioso e delegando essa tarefa aos homens de ciência. Estimulou as atividades manufatureiras, reforçou o poder mercantil e investiu nas universidades.
O despotismo esclarecido de Marquês de Pombal transferiu a autoridade da Inquisição para o Estado, perseguindo e condenando aqueles que se opunham aos seus princípios. Proibiu obras de autores iluministas, como Voltaire, Diderot e Rousseau, entre outros.
É dentro desse contexto que nasceu o principal poeta do século XVIII em Portugal: Bocage.
Arcadismo no Brasil
O Arcadismo no Brasil teve como marco inicial a publicação, em 1768, das Obras (também conhecidas por Obras poéticas), de Cláudio Manuel da Costa. Seu final foi marcado por Suspiros poéticos e saudades (1836), de Gonçalves de Magalhães, que indica o início do Romantismo.
Nesse período, o Brasil vivia situação social, política e econômica singular. A exploração intensa do ouro em Minas Gerais propiciou o surgimento de uma sociedade mais complexa no Brasil-colônia.
Os habitantes das regiões das “minas gerais” começaram a ter contato mais direto com pessoas de diferentes regiões do país e de Portugal, já que elas circulavam por lá. Além disso, tornou-se comum a prática de enviar os filhos para estudarem na Europa.
Não havia, na época, separação expressiva entre a produção literária de Portugal e aquela que aqui se fazia, já que quase todos os poetas do Brasil estudaram em Portugal, tirando de lá a base de seu conhecimento e de seu gosto literário. Foi por meio desse contato que o Arcadismo português foi transplantado para o Brasil.
Dessa forma, as duas tendências desse período eram: a adoção das convenções neoclássicas europeias, como a personificação do amor, no soneto de Cláudio Manuel da Costa, e a tímida inserção de traços brasileiros nas obras.
Por: Wilson Teixeira Moutinho